quinta-feira, 28 de novembro de 2013

A arte que reverbera musica e uma outra exposição cuja divulgação não faz jus a semana pós-Zumbi.


Notas gráficas – gravuras contemporâneas.

Seria um crime de minha parte deixar de visitar uma exposição que fica a 20 minutos de ônibus da minha casa. Ainda mais, uma exposição que de fato responderia minhas expectativas. Digo isso porque as exposições que eu tenho visitado aqui na baixada não foram muito estimulantes. A maioria simulacro de exposições. Porque no fundo não abordavam nenhuma discussão limitando-se a meros objetos exóticos nos trazendo sensações de deja vu. Nada mais que isso. Talvez isso se dê pelo fato das instituições, que organizam estas exposições, não levarem o publico longe dos centros urbanos (e em especial da baixada) tão a sério. Se for uma falsa impressão de minha parte pode até ser. Mas indícios é o que não faltam.
Mas existem pessoas sérias que apostam na arte e nas pessoas sem distinções. Pessoas sérias cuja preocupação é provocar diálogos entre o público.  Aqui no caso, a gravura o publico através de outro diálogo. Com a musica.

E funcionou. No momento em que estive na exposição pude ouvir alunos de escolas publicas debatendo sobre as obras e seus “ruídos” que escapavam daqueles quadros e emanavam pelo labirinto da galeria. Ruídos visuais. Compreensíveis dentro de sua linguagem. 

A minha ida já valeu pelo fato das colagens (que para mim é uma grande paixão nas gravuras) terem um destaque fundamental nas composições dessas obras. Elas se assumem como colagens, mas meio que quebram a harmonia perfeita de suas notas buscando assim o improviso. Obras como as dos artistas Mario Goldzweig  (Jazz & Bossa); André Miranda (Black) me remeteram ao lúdico, da época de minha infância em que eu colecionava álbuns de figurinhas. Loo Stavale em obras como Dança Selvagem carrega toda a sua carga disco music em um perceptivo espirito fanzineiro. Sua deusa Shiva, divindade feminina e “não-grega”  transita através dos tempos. Em suas mãos, ao invés de elementos de sacrifícios, instrumentos musicais; o Jazz de Paulo Jorge Gonçalves nos permite ver todas as suas notas escapando da harmonia convencional e assim criando ruídos. Enfim, Marcelo Oliveira, transita entre o popular e o erudito, quando mescla estas vertentes culturais de nossa realidade social tão oposta em simples convites ou entradas de shows, pondo em cheque o que é legitimado como musica e o que é apenas ruído inculto.

 A exposição vale a pena ser visitada. Primeiro porque ela estabelece diálogo com outro evento no Sesc de Nova Iguaçu (Sesc Amplifica Bossa & Jazz) em que a musica presente irá proporcionar novas formas de ver a arte e vice-versa; e sobretudo, os artistas aqui envolvidos são pessoas cada vez mais interessadas em aproximar um publico, não especifico, mas de formar novas públicos fora do eixo centro-zona Sul.  Mas vá logo porque esta exposição só vai até o dia primeiro de dezembro.

Consciência humana- as essências da afro-brasilidade.

Exposição não divulgada sequer pela instituição (até este momento que escrevo). Talvez eu esteja realmente imaginando coisas só porque esta exposição trata uma questão ainda não muito resolvida em nossa sociedade: consciência negra. Ou questões raciais, como preferirem. Mas o assunto é o mesmo. Eu, ao visitar a exposição Notas gráficas – gravuras contemporâneas, a convite de uma amiga que tem seus trabalhados expostos nesta exposição (Loo Stavale), casualmente percebem (e fui presenteado por isso) que ali que havia uma outra exposição que sequer foi citada em nenhum canal de mídia ou ao menos na internet, ao menos na semana da consciência negra.   

Mas enfim, por conta destes detalhes fico aqui sem saber ao menos o nome do curador e os principais motivos que fomentaram o projeto. Mas não deixo de mergulhar nela. E o que vejo é uma aula do quanto à arte de fato não é domínio de poucos privilegiados. Ela é acessível a todos. Todos nós somos capazes de fazer arte sem um gênio artístico.
 A exposição em si funciona como memória. Mas não uma “memória primitiva” como teimamos em estigmatizar um povo; uma etnia. A memória é uma memória contemporânea. Do lugar. Do aqui agora, mas ainda prestando respeito com o passado. Esta memória é a nossa diáspora. É aqui que devemos assumir nossa afro-brasilidade.
Instrumentos étnicos que são aqui reproduzidos por artistas contemporâneos (Fallou Diop), e esculturas que remetem a Giacometti Fanta e Falla Dioup e as fotografias documentais e cotidianas de Ymoraz 2007/2008, nos levam ao velho continente africano. Longe das imagens desgastas do sofrimento, mas de um povo que tenta se reerguer no pós-colonial. Imagens magnificas de extrema beleza estética.
Mas certamente é na série Cartão postal do instituto de alunos d’Espoir, Senegal, 2011, que passamos a entender que a arte é de fato a própria vida, logo, toda a vida é obra de arte. E somos criadores, logo, capazes de produzir arte. E isto fica evidente nos seus retalhos de tecido sob papel cartão.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

domingo, 24 de novembro de 2013

FUNKERO - "ADEUS" (prod. xara)



Adeus

Mc Funkero

Lembrança viva na alma,estrela brilhante
Já sonhei bastante,nada mais vai ser como era antes
A vida é assim,sei que o mundo e um moinho
A gente nasce,cresce junto,depois morre sozinho,o caminho
Foi iluminado,agradeço a Deus por ter dado
A grande honra de ter vivido ao teu lado
Todo nosso passado tá vivo no meu presente
Me ensinou que a gente pode fazer diferente
Me ensinou a ser pai,,me ensinou a ser homem de verdade
Não fugir da responsabilidade
A febre da cidade tentou destruir nossa família
Eu pergunto a Deus se haverá justiça um dia?
Os covardes que te alvejaram não apagaram sua história
Pois você continua vivo na nossa memória
Cada olhar do seu sobrinho tem você refletido
Cada lagrima minha,a dor de você ter partido
Adeus,adeus
Saudade eterna de um tempo que não volta
As cenas passam em câmera lenta,a fita num volta
Lembro da gente na praça,vários irmãos reunidos
Muitos deles,inclusive tão aí em cima contigo
Qualquer dia a gente se encontra,vai ser sempre assim,
Eu olhando por você,você olhando por mim
O bairro que a gente cresceu levou sua vida
Mas a lição que você deu foi viver bem a vida
O covarde que nos fez isso tá morto em vida
E você no nosso peito continua vivo na morte
Descanse em paz,que eu to forte
Enquanto houver historia eu vou lutar,enquanto eu conseguir respirar
Pra sempre eu vou lembrar do meu mano fiel
Que iluminou nossa terra e virou estrela no céu
Hoje meu dia foi de choro,pedi a meu Deus
Me ajudar nessa hora só pra eu te dizer adeus
Adeus,adeus

BOLA OCHO n.1 by Daniel Clowes




BOLA OCHO, número 01, por Daniel Clowes DOWNLOAD

FRANK n.01 by Jim Woodring





FRANK de JIM WOODRING N.01 DOWNLOAD

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

As Fronteiras Intransponíveis - Capítulo 1

  
          Um dia de celebrações mórbidas. Era uma tarde típica de Outono, embora as estações nesses tempos de agressões químicas contra a natureza tornam-se confusas. Porém, as nuvens cinzentas ejaculavam sua fina chuva contra aquele cenário. Além dos túmulos de pedra e barro, a vegetação úmida e as pessoas que usavam seus trajes enlutados, passavam um belo conjunto de tristezas e saudades formando assim, uma mórbida obra de arte de algum pintor incógnito e sombrio.

           Eu estava a uma certa distância dali. Entre as arvores. Em meio a distúrbios e conturbações que minha mente talvez não quisesse aceitar. Não havia vozes, lamentações e palavras culposas. Todo o sentimento era transformado em imagens sem sons. Ao me aproximar, tentava identificar os rostos entristecidos pela dor, mas até isso me foi privado de lembrar-se destes.

           Uma senhora ao lado de duas meninas, sendo que uma delas se parecia muito com o cadáver ali no caixão. E ao lado destas, um senhor de idade que talvez abatido pela doença e perda, não conseguia expressar uma lágrima sequer. Seu olhar se perdia entre o oceano de lembranças boas e de imagens que poderiam ter existido, mas que na verdade nunca existiram e nunca venham a existir.

           Havia muitas pessoas ali reunidas, mas o que mais me chamava à atenção foi ter visto um casal, para ser mais exato, e não pareciam ter mais que cinco anos. Talvez fossem seus filhos que ali se encontravam. Filhos daquele corpo inerte. Crianças tão jovens para conhecerem o fim de uma existência. Forte demais para quem chegara há pouco tempo para deslumbrar a existência.

           Não era mais uma criança cujo corpo que ali repousava naquela caixa mortuária, mas também não era uma criatura que se podia dizer que vivera muitos anos. Talvez o suficiente para se apaixonar, procriar, viver em grupo e depois renunciar em tão pouco espaço de tempo o doce paladar da juventude. Não importava mais e de nada adiantaria saber seus nomes e o que cada um representava para o outro e para aquele defunto.

    A cama fora lacrada e levada até o local do sepulcro. Uma procissão de vinte pessoas acompanhava o casulo sem vida daquele rapaz. Algumas choravam, outras riam e contavam piadas diante daquele cenário mórbido, mas mesmo assim, a atmosfera que os envolviam era mais contagiante que suas fugas particulares. Outras se apegavam na possibilidade de existir um lugar melhor. Que Deus poderia guardar para aquela alma, o descanso eterno enquanto os mais céticos procuravam lembrar-se dos momentos inesquecíveis que passaram ao lado daquele que um dia tivera vida como eles. Tudo que haveríamos de descobrir através de nossos espantos ao ver um cadáver ali no chão já não surte seus efeitos. A morte em si, sua religiosidade assim como seu rito são rapidamente esquecidos pelo cotidiano indiferente da existência progressista e relações fúteis. Aprendemos como é que se morre. Mas ainda desaprendemos como é que se sente.

  Parecia que o viajante temporal era um personagem de carismas extremos, embora, além de rostos tristes e inconformados, haviam outros indignados e revoltados ao que parecia direcionado ao defunto. Mas não importava as opiniões e pensamentos. O caixão chegara ao seu destino. Pás jogavam terra na cova onde este fora depositado enquanto aquela típica canção cristã executada em nossos funerais aumentava ainda mais os dolorosos prantos de dor. Pude identificar pela leitura dos lábios. Aquilo me deixava ainda mais perturbado. Como se a mim próprio já estivesse passado por tudo aquilo.

Quando a ultima pá de terra fora jogada, a chuva tinha se dissipado. As pessoas, aos poucos, iam se debandando, restando apenas a garota e seus dois filhos. Agradeci a Deus por naquele momento, ter me privado a audição para não ter que ouvir aquelas lamentações restantes. As imagens já me diziam tudo e o pior, doía em mim próprio.

A noite chegara. A mulher, por assim dizer, recolhe seus dois filhos, foram levados para a casa por um suposto membro da família. E assim eu me encontrava só naquele cenário sombrio com um passado privado de qualquer recordação; um presente inconcebível e um futuro intangível e inimaginável. Em resumo: Eu não tinha a menor ideia de quem eu era, de como eu era e para quê eu existia. Tentava imaginar qual seria a finalidade de estar ali. De minha própria consciência. Pude me aproximar mais Daquele templo de descanso temporal. Daquele jazigo de barro. E refleti sobre o fato de ter alguma ligação com aquele indivíduo sepultado. Não adiantaria muito relutar. Sabia que não conseguiria uma resposta dali. E então resolvi abandonar aquele lugar de vez. A única maneira de encontrar alguma reposta seria andar por esta vasta dimensão. Embora a audição e o tato, até aquele momento me eram privados, eu tinha a certeza que as imagens poderiam me dizer mais do que qualquer palavra.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

EL VIBORA N.18









EL VIBORA N.18 DOWNLOAD CLASSICOS TBO DE BARCELONA CATALUNHA!

COCAINE COMIX n.01


COCAINE COMIX n.01 : DOWNLOAD

domingo, 3 de novembro de 2013

O mito e o rapaz invisível.

Atenção: este artigo contém fragmentos de spoiler.r



.Neste fim de semana resolvi alugar algum filme em DVD. Passei na locadora e acabei alugando dois filmes que queria ver algum tempo. Só então me dei conta de que estava levando para casa, embora dois filmes, mas que versavam sobre o mesmo tema: biografias.


O primeiro era o filme Somos tão jovens do diretor Antônio Carlos Fontoura, mas que aqui me reservo o direito de não falar sobre pelo simples fato de não ter me causado maiores impressões (veja a crítica de outros sites no final desse texto). Que tratava da trajetória da banda Legião Urbana e as demais bandas de Brasília que migraram para o Rio de janeiro na década de 1980 para fazer sucesso e que tem seu foco na “genialidade” de seu frontmanRenato Russo(interpretado por Thiago Mendonça de Dois Filhos de Francisco). Deixo claro aqui que o filme de Antônio Carlos tem um mérito: o de ser honesto quando retrata a real situação social dos personagens rendendo inclusive, cenas hilárias.
Já o segundo, Sete dias com Marilyn (My Week with Marilyn do diretor Simon Curtis), este sim me causou impressão. Confesso que ao ir para a segunda sessão, estava eu já desanimado com a experiência que havia passado com o Somos tão Jovens... Mas Sete dias... Foi mais profundo. Talvez não ter me atraído tanto por Somos tão Jovens seria pelo fato de ter passado por inúmeras biografias de bandas de rock, desde The Doors e a formula parecer ser a mesma. É claro que devo aqui levar em conta que a essência destes filmes é sempre a mesma: a de captar o espirito de uma época (espirito este que também pude viver em minha juventude.) e de uma geração com extremo excesso de rebeldia e que às vezes fica-se difícil saber o que é verossímil e o que é romantismo.

E por não viver mais esta juventude é que a figura Marilyn Monroe me atraiu mais. Porque sua figura, até então retratada apenas por fragmentos de tabloides e imagens até os nossos dias não é suficiente e que sua tragédia se assemelha demais com tantas outras celebridades tão recentes a exemplo de Maicon Jackson. E isso só foi possível com grandes interpretações como da personagem título (a atriz Michelle Williams que nos apresenta uma memorável Marilyn, insegura, frágil diante de uma verdadeira crise de identidade diante do mito que ela representa), seu par Colin Clark (Eddie Redmayne) e do ator britânico Laurence Olivier (Kenneth Branagh).   

Marilyn, como toda celebridade, paga caro por ter sua vida especulada e monitorada todo o tempo. Paga duplamente por ser mulher de um tempo em que o feminismo ainda não está resolvido com a sociedade recatada norte-americana e ainda mais em choque com o conservadorismo britânico. Símbolo do liberalismo sexual que se confunde com o sex simbol. Marilyn é prisioneira do imaginário feminino como símbolo de liberdade na mesma medida que é símbolo fetichista dos homens. Causando admiração destes (e inveja e ciúmes das companheiras destes também). Tal imagem reforça sua condição celebre fazendo assim com que uma barreira quase intransponível a separa do mundo real. Mundo este que o jovem Colin Clark transpõe (o filme é baseado no livro autobiográfico de Colin, publicado nos últimos anos de sua vida). Uma espécie de terceiro ajudante de diretor que nada mais é que um “mensageiro-servidor-de-chá”, capacho da hierarquia cinematográfica. Produtora britânica em que Marilyn rodará o filme O Príncipe Encantado (The Prince and the Showgirl, 1957) e na qual ela se afeiçoa pelo ingênuo rapaz. Seu antagonista Laurence Olivier é um ator e diretor e produtor do projeto. Sente admiração pelo mito de Marilyn na mesma medida que odeia as crises emocionais dela. Sonha ser uma celebridade tal qual como ela ainda em sua tardia trajetória o que causa aqui um jogo interessante quando vemos em Marylin, um produto de Hollywood, muito mais celebridade do que atriz, força motriz de suas crises emocionais. Mas o interessante aqui neste jogo é que vemos uma grande cumplicidade entre as personagens.

O filme é bonito em sua essência. Não há cenas e sexo entre Marylin e Colin Clark. O que deixa em suspenso se realmente aconteceu. O relacionamento de ambos contraria qualquer expectativa machista. Colin parece penetrar na persona de Marilyn (esta ultima nem sabe mais quem é). Poucas vezes um filme retrata um mito descendo de seu pedestal e de fato ter uma interação humana com um mero mortal. Um “invisível” Colin (e põe invisível nisso!) dispenso aqui comentários sobre a trilha (razoável!) e demais partes técnicas!

Sobre Somos tão Jovens:

outras criticas sobre , Sete dias com Marilyn: