Wener Marq é fanzineiro, dizainer de mão cheia e ilustrador. Também um bom amigo e marido zelozo. Sempre estimulando a produção autoral de quadrinhos e zines, esteve durante as primeiras edições da QUASE, época em que a galera de Alegre fazia um zine chamado ERA, com varias pérolas do Keka (klaus).
Confira um pouco da trajetória e do trabalho deste amigo Dom Carmurro:
> 1)
Fale um pouco da sua infancia em Rondonia, da sua Familia.
Nasci em Mantena, MG, cidade vizinha de Barra de São Francisco,
estudei até a 5a. série no ES e mudamos em 1986 para Machadinho
D'Oeste-RO, para um projeto de assentamento do INCRA no meio da
floresta, o local estava começando quando chegamos por lá. Estudei até
a 8a. série e mudei para Ouro Preto D'Oeste-RO, uma outra cidade lá de
Rondonia, lá estudei até o 2o. ano colegal. Foi quando conheci Angeli
(Chiclete com Banana), Glauco (Geraldão), Laerte e esse povo todo que
gostamos, era por volta de 89/90...
> 2) Como foi o seu contato com a arte, mas isso de modo amplo, os quadrinhos a musica, como isso despertou em voce?
Quando voltei ao ES, vim morar em Colatina, comecei a andar de skate,
era 91, e conheci um monte de coisas bacanas por conta disso: novas
músicas (the Doors, Led, Sabath, o povo grunge, o punk, REM, Legião,
Dead Fish, Raimundos o hardcore etc) quadrinhos (muitos!) e livros.
Acho que foram os livros que mais me atraíram e me mudaram. Quando li
Hermann Hesse (em especial O lobo da estepe), me senti tocado de uma
maneira que nunca tinha sentido antes. E isso que despertou meu olhar
para as artes. Começou pela leitura, mas eu já desenhava como todo
moleque faz, super-herói, copiando os autores que admirava, essas
coisas.
> 3) Como foi o processo de você sair de Rondonia e ir para alegre estudar?
Na verdade, como disse acima, eu voltei de Rondônia para Colatina,
onde terminei o segundo grau, fiz vestibular e também fiz um concurso
para a antiga escola técnica, fui chamado para trabalhar em Alegre,
numa outra escola, na época, Agrotécnica.
Alegre é uma bela cidadezinha do sul do ES. A melhor parte é que um
campus da Ufes está instalado lá, isso faz com que uma boa parte da
população jovem seja substituída todo ano, isso torna a cidade um
calderão efervecente e raro num raio de uns 300 Km, logo foi muito
boa a época que vivi por lá. Foi a melhor coisa que poderia ter
acontecido comigo naquela época. Isso era 1993...
> Voce ficou na casa do Ratao vulgo Samba t-shirts?
Fiquei sim, mas isso foi depois de anos morando em Alegre. Conheci ele
enquanto morava em pequenos quartos alugados, muito tempo depois;
quando precisei ficar um mês na casa dele, eu pude usufruir da
hospitalidade do Mr. Ratão (vulgo Rogério Campos, A.K.A.
sambaclub.com.br).
Fizemos cursinho pré-vestibular juntos... Estudamos na mesma
universidade e fizemos um curso no mesmo centro acadêmico (Centro de
Artes da UFES). E fizemos muitos fanzines juntos, um roubando idéias
do outro, claro.
:)
> 4) E como foi montar os zines, Maria vai pro Céu e o Informativo das Ideias Cyberpunk? Vocë ja teve alguma relaçao com o movimento Cyberpunk?
O primeiro zine que montei foi o "Simone vai pro céu", uma homenagem a
uma amiga que viera de fora para trabalhar na mesma instituição que
eu, ela queria casar, estava noiva e nós sempre a víamos feliz da vida
e disposta a ir todo final de semana namorar, ela se casou e foi
feliz. Ficou o zine. Fiz eEsse zine (SVPC) só para aprender. Ele
surgiu depois que fui num show do Raimundos e Dead Fish em Camburi
(Vitória-ES). Eu queria aprender uma utilidade para o computador e a
única que me interessava era a parte dos gráficos, da pirataria
também, né? Naquela época quem sabia alguma coisinha acumulava um
monte de novidades digitais: fotos, vídeos, sons e programinhas... Era
divertido porque não era obrigação. Quando a internet virou essa
febre, os virus atrapalharam tudo! Todos os tipos de vírus,
principalmente aqueles que usam o usuário como o disseminador, o
replicante desse monte de babozeiras que temos hoje graças ao MSN,
Hotmail e similares.
Do movimento cyberpunk eu só conheço o nome. Me identifico mais com os
situacionistas e com a arte das ruas.
:)
Gosto muito mais de um termo que li certa vez numa revista General,
numa entrevista que Max Cavalera afirmava que ele era um cyberdingo
(mendigo cybernético), gostei deste termo e sempre que posso uso, acho
mais adequado que o cyberpunk.
> 5) Como foi o contato com o Bruno Privatti do ZineBrujeria?
Foi através do QI (do Edgar Guimaraes
http://www.gibindex.com/content/edgard-guimar%C3%A3es)
.
Bruno tinha um zine bacana, tinha contato com gente bacana e estava
acessível por email e por carta. Foi interessante porque muito do q eu
gostava ele publicava, portanto fui um leitor assíduo das coisas dele,
e tinha o Lauro, né? Quem encontra o Lauro, toma um tapa! Ainda estou
procurando alguém tão visceral quanto ele, sou fã. E isso que fez a
coisa funcionar: queria ter um zine tão legal quanto o Brujeria.
E fã é f*da! né.
(desenho acima; Lauro, para capa do (
Brujeria zine, do B. Privatti)
> 6) Você fez tambem os anos 90 uma linda capa para o zine OFF MY JAMMY (é assim que se escreve?) era um desenho bonito, como foi o contato com a editora?
Foi um acaso do destino, eu trocava email com a editora do Off My
Jammy, ela escrevia em português e eu em inglês, para aprender mais a
linguagem um com o outro, ela se casou e veio visitar o Rio de
Janeiro, me mandou uma foto dela com o marido tomando água de côco,
tinha gostado muito e me que a água de côco era uma delícia, eu fiz um
desenho e mandei para ela, que gostou e botou como a capa do zine
dela, especialmente sobre a visita ao Rio. Me senti lisonjeado com
aquilo e fiquei mais confiante ainda, na carreira que tinha escolhido,
na época eu estava no primeiro semestre de desenho industrial -
programação visual. Foi divertido e gostoso aquele sentimento.
> 7) E o zine Dr. Sexta feira? fale-me dele. É um zine mutante?
Com certeza!
Ele é o meu espaço mental mais divertido.
É um zine, né? E para continuar existindo deve ser mutante. Crescer. Evoluir.
Sempre que tenho vontade de apresentar algo que me despertou
interesse, eu publico um Dr. Sexta-feira. Ele surge e desaparece
espontâneamente. Estou com algum material guardado para publicar mais
um, se conseguir recursos financeiros... Ele sai, senão fica
amadurecendo.
> 8) Você tem preocupação de deixar sempre algo pra se pensar em seus quadrinhos e ilustrações. Você se vê como artista compromissado com o mundo que o cerca?
Que nada! É mania!
Essa mania de sempre deixar algo positivo a ser descoberto. É da
humanidade, faz parte da educação, né? Fizeram assim comigo, só estou
repetindo o comportamento. O resultado é interessante. Quem presta
atenção e "pesca" a msg, sente-se ligado em algo maior. Isso faz parte
da sociedade dos letrados, né? Do povo que foram atingidos pelos
signos... Um ser letrado, quando atingido pelo signo, sente-se do
mesmo jeito que um passarinho, quando atingido por uma pedra, o
significado equivale à pedrada.
:)
É isso que tento passar adiante.
Em todos os momento que alguém está prestando atenção.
> 10) Você acha que o seu trabalho com o Dr. Sexta feira influenciou revistas como a Quase (era voce quem diagramava no inicio naum?) ou ate mesmo a Prego?
A Revista Quase eu posso dizer que sim, porque participei ativamente
do nascimento dela. E depois eu trabalhei com eles no projeto até o
número 7, quando saí para tocar minha vida. Eu era um participante que
não aparecia. Não tinha nome nem cara, era um diagramador rabugento...
:)
Foi muito bom participar daquela revista, muita coisa bacana foi feita
por conta da energia que fluia quando juntava aquele povo todo.
Principalmente as festas de lançamento das revistas, era diversão
garantida! E até hoje eles continuam com a molecagem, só migraram de
suporte:
http://www.youtube.com/user/tvquase
A revista Prego eu imagino que não, penso que pelo fato de vir do
mesmo meio (hardcore/punk), foi isso que causou essa semelhança. E o
Alex (editor) fez artes na Ufes, então penso que foi apenas o meio que
despertou essa semelhança, eu acho a revista Prego muito boa. As hqs,
os textos, o formato, a conversa-mole etc.
> 11) O que é o 100 % zine?
É um conceito. E também foram umas edições especiais que fizemos, eu e
outro para o "Manifesto conta o trabalho", que estou querendo reeditar
via Id Editora <
https://www.facebook.com/pages/Id-Editora/140154866010564?ref=ts>
É um daqueles conceitos que serve como motivo para editar zines.
;)
> 12) E as parcerias? O grande Saulo entre outros camaradas, o que vc acha dos trabalhos em rede, em coletivo, em grupo ou qualquer nome que queira dar, qual a importância?
As parcerias que salvam do tédio, né? Saulo sempre está na atividade,
sempre produzindo. Bem antes desses negócios de redes sociais e
blogs... Acho que o espírito continua o mesmo, só a velocidade das
coisas que aumentaram. A produção em rede é muito mais rica! E isso q
facilita o movimento, só quem tá ligado no coletivo se mantém, se
ficar nessa de ego, de artista solitário, já era. Só o coletivo que
salva. Isso vale para todo o coletivo, principalmente o coletivo
humanidade... (você também faz parte!)
> 13) O que você achou do Rio de Janeiro em sua ultima visita?
Achei bem bacana. Estava calmo o final de semana, né? Muita gente
bonita e muito rock divertido pela noite afora.
Quem tem energia tá bem!
> 14) Quais os artistas (dentro das artes visuais) que te influenciaram, que te influenciam ou que te influenciarão?
Acho que os quadrinhos do Crumb, os artista pop (Basquiat), Van Gogh e
Escher quem mantém as artes visuais sendo interessante para mim. Tem
os artista capixabas que eu curto muito também: Kael, Julio Tigre, os
coletivos (embira, quase, expurgação etc) sempre somam forças, né?
> 15) Acha que é valido os fanzine na academia? Conhece algum curso onde tenha como disciplina fanzines, ou ate mesmo historias em quadrinhos?
Penso que pode ser apresentado algo teórico, para conhecer a história,
o q é etc, mas ter aulas disso, acho que não faz bem ao espírito
"empreendedor" do fanzineiro. Fazer zines é algo da esfera do
amadorismo, não pode ser muito profissional, senão perde a aura do fã.
E isso é o que move o mundo dos zines: o espírito do fã. Essa coisa
inacabada, sempre podendo melhorar mais, nunca estar perfeito. Esse
jeito não pode ser mudado, senão fica muito profissional, e aí entram
outros sentimentos que não o de fã. Vejo os fanzines como oficinas,
até quem é profissional muitas vezes usa este veículo/linguagem para
experimentar algo, ver se funciona, e então melhorar a msg (ou
fanzine).
> 16) Faz um set list de dez musicas que vc gostaria que as pessoas ouvissem vindo de vc.
Dumb - Nirvana
Orange Crush - REM
Killing in the name - RATM
One I love - REM
Armas e Paz - Adão Dãxalebaradã
Elephant Gun - Beirut
Todos estão surdos - Chico Science e Nação Zumbi
Tonada Yanomaninista - Devandra Benhardt
Hey Joe - O Rappa
Segundo sol - Cassia Eller
> 17) Tanta discordancia no mundo. Voce esta de que lado?
Estou do lado que acredito.
:)
> 18) Obrigado pela entrevista ao blog encrewzilhada. deixe sua mensagem e contato para quem quiser saber de vc
Eu fico grato e honrado pela oportunidade. Quem quiser me adicionar, é
só informar de onde me conhece e mandar bala:
http://www.meadiciona.com.br
http://flavors.me/wenermarq