sexta-feira, 31 de agosto de 2012

3ADFZPA – 3º Anuário de Fanzines, Zines & Publicaciones Alternativas

3ADFZPA – 3º Anuário de Fanzines, Zines & Publicaciones Alternativas

 

sábado, 25 de agosto de 2012

Expressões Latinas desfilam pelo Rio


     Este é um momento bastante interessante no que diz respeito à arte latina aqui na cidade do Rio de Janeiro. E de fato precisamos olhar mais para dentro do nosso amado continente e ver que existem coisas muito mais interessantes até do que o que estamos acostumados a ver no além mar e principalmente “para o alto”. Para o Norte. Temos neste fim de semana o grupo musical Maldita Bohemia, do Chile e estará presente na 6ª edição de Atrocidade Maravilhosa (cartaz acima). O grupo, como condiz o nome, trás canções de bar. Em seu videoclipe (abaixo) podemos sentir o clima de sua musica toda executada em uma taberna solitária de Santiago  e tocará no dia 25/08 no evento.
     Já no , Centro Cultural Caixa Econômica Federal temos a exposição que começou no dia 10 de Julho e vai até 09 de setembroMacanudismo, Quadrinhos, desenhos e pinturas de liniers. Graças a Bebel Abreu (além de curadora é fã assumida) temos exposto obras de um filho da geração fanzine e quadrinista (clique aqui e de uma olhada no site da curadora)Liniers é argentino e nos presenteia com tirinhas (publicações suas de um longo período como colaborador de jornais). Esboços, cadernos de viagens. Enfim, todo um processo de criação que não estamos acostumados a tomar conhecimento do universo dos quadrinhos por justamente esta arte ainda viver o estigma do Kitsch. Confesso que senti um pouco de falta dos fanzines nesta exposição, mas enfim, ainda falta muito chão para trilhar... E você não perca estes eventos.  abaixo uma palinha do que te espera.



quarta-feira, 15 de agosto de 2012

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O crime do funk carioca.

por Júlio César dos Anjos

“O funk não é modismo
É uma necessidade
É pra calar os gemidos que existem nessa cidade”- Rap do Silva

 
Se existe algo perigoso no funk carioca é porque ele reclama sua própria existência. Seu grito é o grito dos despossuídos. Dos sem teto. Dos assalariados. Dos indigentes que são encontrados sem vida (desvalidos) por nossa cidade, produtos da urbe.  É também o grito de nossos ancestrais que foram torturados e martirizados nas obscuras senzalas suburbanas de nossa “cidade maravilhosa” em séculos passados. É também uma mistura de ritmos de várias épocas e vários lugares. Uma espécie de mixer. Este grito é como a vida. Ela é mortal; o funk também é. Ela é sensual; o funk o é. Ela é fome assim como o funk. Seu sensualismo é tão erótico, mas tão explicitamente erótico que nos faz virar a face para o outro lado. Ele nos faz encarar aquilo que tentamos ocultar em nossas vestes morais. Das mascaras de nossos pudores somente revelados em nosso âmbito privado. E aqui não só se revela o erótico, mas a face dos vícios. Daquilo que realmente somos. Os monstros põem as mascaras pra não serem revelados pela luz prateada do luar social. Poucos possuem esta coragem. A grande maioria se esconde em grotescas caricaturas do permanente. Agem como idolatras do absolutismo pós-modernista. Nada mudou. Os preceitos foram quebrados para se erigirem novos preceitos. Estes, mais resistentes e inabaláveis.
A libertinagem do funk carioca é tudo que queríamos viver como viveram os antigos. Essas civilizações menos pudicas que agora se encontram refletidas nos ritmos frenéticos dos corpos. Corpos que libertam nossa sexualidade oprimida.
Aí está o perigo. Um perigo que preocupa as autoridades puritanas e outras entidades mais conservadoras. Por isso, esta associação com determinadas atitudes criminosas como se a musica fosse de fato combustor desta.
Mas não é a primeira vez que a musica, que na verdade nos inspira seja qual for a sua natureza, tem seu papel de pivô. Basta dar uma boa olhada em nossa história ao depararmos com a musica punk, o ska e tantos outros ritmos que um dia foram ou ainda são underground.
Seria o funk carioca a nossa real libertação? Não creio tanto. Mas creio que ele nos libera de fato. Nos libera não somente de nossos pudores, mas de nossa própria existência. Porque ele também é queda e principalmente morte. Porque o prazer é morte.  É ruptura dos sentidos exaustos por irradiarem-se. É o nosso aniquilamento sem metafísicas, mas dentro da metafísica. É a morte como fim e exclusivamente o fim e paradoxo com a vida. Com ele (o funk), esta ambigüidade metafísica se anula com toneladas de chumbo em nossas cabeças. Não há, de fato, metafísica e muito menos metáfora nisso. O funk carioca é a canção do sexo e da morte. No tiro do fuzil e no sensualismo semi-erótico das cinturas, pélvis e bumbuns cariocas. Ele nos oferece prazer, mas nos dá também a dor. Nos dá a diversão, mas também o aniquilamento. Há uma liberdade nisso que está fora de qualquer estratificação social. Eu ainda ouso dizer que não tenho competência para falar sobre isso. Ainda sou cheio de pudores socioculturais embora muito dos adeptos do funk o são e o tem como um rito dessa já mencionada libertação (e liberação). Ainda assim eles possuem mais coragem do que eu e você juntos.
O funk carioca é responsável pela violência que assola nossa cidade? A única coisa que eu tenho certeza é que não é a musica que aperta o gatilho contra as nossas cabeças. São na verdade, nossas próprias cabeças. Alimentadas por nossas índoles.

A tragédia nossa de cada dia.

Por Júlio César dos Anjos


O urso Pidão - Personagem clássico do desenho do pica-pau que até hoje reprisa nas tvs brasileiras - é um arquétipo bem caricatural mas que está bastante presente no nosso imaginário popular no que diz respeito há maneira como enxergamos a população de rua.



Algumas pessoas odeiam a tragédia. Outras a adora tanto que não conseguem imaginar suas vidas sem ela. Confesso que eu gosto da tragédia. Mas não da maneira convencional. Não daquela forma que as pessoas costumam fazer tal qual Cristo em seu calvário. A minha tragédia é grega.
Ela é grega. Mas não parte de um fundo puramente emocional. Ela é também encenada. Por isso muitas pessoas não acreditam em mim e na maioria das vezes não me levam a sério. Acham que o simples fato deu invocar a tragédia e rir da cara dela tal qual rimos para o fundo do abismo, julgam que talvez eu não carregue sentimentos e a na maioria das vezes, me dispensam maiores considerações.
Mas isso não é uma característica exclusivamente minha. Certa vez, eu estava com um amigo de faculdade no intervalo de nossas aulas, em um barzinho nas imediações, almoçando. De repente, um morador de rua aproximou-se de nós e começou a chorar pedindo que déssemos uma das guloseimas que estávamos ali consumindo. Era de se espantar as lamentações e seus olhos cheios de lágrimas. Eu dei uma boa parte do que eu estava consumindo. Ele de repente limpou as lágrimas, cessou suas lamentações e parecia que não havia sofrido. Já vi pessoas usarem de tal técnica para pedir dinheiro e até cigarros. Mas achei nobre da parte desse nômade urbano invocar seus arquétipos (se for o caso dele realmente não estiver sofrendo) em uma cidade que muitos o invocam por motivos tão fúteis e egoístas. A fome e a vontade de viver, já li isso nos grandes filósofos, é a força mais poderosa da terra. Incluo dentro da vontade de viver a fome sexual. Mas isso é outra história.
A beleza de invocar esses arquétipos para interpretar sua própria tragédia é bem mais bela que a vivenciá-la de fato e faço votos que realmente aquelas lágrimas do ambulante sejam fingidas e por serem fingidas pelo meio que elas foram usadas são admiráveis. Se tratando disso, nenhuma oficina de teatro o ensinou a fingir ou trabalhar tais arquétipos.
Prova mais concreta que a arte está em qualquer um. Por isso Nietzsche diz que é a arte que faz o gênio e se a arte faz o gênio não existe oficio ou sequer um status contemporâneo para o autoproclamado artista.
Se não existe status, não existe crítica da arte e se não existe critica da arte, o que estou fazendo no meu curso de história da arte? Sinceramente, não sei. Mas preciso tomar uma decisão. O meu amigo urbano me ensinou mais do que estes dois anos e meio de faculdade.