Por Júlio César dos Anjos
Algumas pessoas odeiam a tragédia. Outras a adora tanto que não conseguem imaginar suas vidas sem ela. Confesso que eu gosto da tragédia. Mas não da maneira convencional. Não daquela forma que as pessoas costumam fazer tal qual Cristo em seu calvário. A minha tragédia é grega.
Ela é grega. Mas não parte de um fundo puramente emocional. Ela é também encenada. Por isso muitas pessoas não acreditam em mim e na maioria das vezes não me levam a sério. Acham que o simples fato deu invocar a tragédia e rir da cara dela tal qual rimos para o fundo do abismo, julgam que talvez eu não carregue sentimentos e a na maioria das vezes, me dispensam maiores considerações.
Mas isso não é uma característica exclusivamente minha. Certa vez, eu estava com um amigo de faculdade no intervalo de nossas aulas, em um barzinho nas imediações, almoçando. De repente, um morador de rua aproximou-se de nós e começou a chorar pedindo que déssemos uma das guloseimas que estávamos ali consumindo. Era de se espantar as lamentações e seus olhos cheios de lágrimas. Eu dei uma boa parte do que eu estava consumindo. Ele de repente limpou as lágrimas, cessou suas lamentações e parecia que não havia sofrido. Já vi pessoas usarem de tal técnica para pedir dinheiro e até cigarros. Mas achei nobre da parte desse nômade urbano invocar seus arquétipos (se for o caso dele realmente não estiver sofrendo) em uma cidade que muitos o invocam por motivos tão fúteis e egoístas. A fome e a vontade de viver, já li isso nos grandes filósofos, é a força mais poderosa da terra. Incluo dentro da vontade de viver a fome sexual. Mas isso é outra história.
A beleza de invocar esses arquétipos para interpretar sua própria tragédia é bem mais bela que a vivenciá-la de fato e faço votos que realmente aquelas lágrimas do ambulante sejam fingidas e por serem fingidas pelo meio que elas foram usadas são admiráveis. Se tratando disso, nenhuma oficina de teatro o ensinou a fingir ou trabalhar tais arquétipos.
Prova mais concreta que a arte está em qualquer um. Por isso Nietzsche diz que é a arte que faz o gênio e se a arte faz o gênio não existe oficio ou sequer um status contemporâneo para o autoproclamado artista.
Se não existe status, não existe crítica da arte e se não existe critica da arte, o que estou fazendo no meu curso de história da arte? Sinceramente, não sei. Mas preciso tomar uma decisão. O meu amigo urbano me ensinou mais do que estes dois anos e meio de faculdade.
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