Se um dos milhares de ditos que o popular se vale para adjetivar e assim se manter seu receoso distanciamento da arte e do seu sistema de valores cultos, é associa-la como “uma prática de loucos”. O que reforça esse imaginário coletivo que mais serve para distanciar a experiência estética da obra de algumas classes sociais é aqui bem aplicado, pelo menos literalmente, na vida e obra de Bispo do Rosário (1909 ou 1911, Sergipe, 1989, Rio de Janeiro). Impossível de separar analiticamente estas duas, perturbando nossa desesperada necessidade contínua de categorizar e ordenar valorativamente o estado das coisas.
Como todo messias contemporâneo, Bispo ouviu o chamado de Deus e fez de sua vida sua própria obra de arte. Começa ele mesmo se intitulando como Jesus Cristo. Para o restante do mundo, nada mais foi que um invisível social. Arthur Bispo do Rosário era negro e descendente direto de escravos Africanos; louco; filho da classe operária. Ele é um exemplo romântico do artista incompreendido pelo seu tempo e pelo seus pares e que somente será reconhecido pós-mortem. Morre o homem, nasce o mito. Ciclo natural que só compete àqueles que não tiveram uma voz na polis, mas que sua obra, inegável e barulhenta se faz existir. Uma voz emergindo da periferia e se centralizando simbolicamente. Nos incomodando. Mas nada disso valeria se sua materialidade não dissesse nada.
Mas aqui não se trata de definirmos esta materialidade. Por hora. Ela já tem o seu status de fato antes mesmo, em um dado momento em que ela escapava dos nossos juízos categóricos. Extrapolou a tentativa de institucionalização em um primeiro momento mas não escapou de ser apreendida pela galeria graças aos seus valores simbólicos. O que se sugere que mesmo sua obra não estando resolvida para a historia da arte assim como toda a arte contemporânea não está, ela se encontra presente no mundo através de suas várias consciências. inclusive algumas delas emanada do próprio Artista-messias.
Mas aqui não se trata de definirmos esta materialidade. Por hora. Ela já tem o seu status de fato antes mesmo, em um dado momento em que ela escapava dos nossos juízos categóricos. Extrapolou a tentativa de institucionalização em um primeiro momento mas não escapou de ser apreendida pela galeria graças aos seus valores simbólicos. O que se sugere que mesmo sua obra não estando resolvida para a historia da arte assim como toda a arte contemporânea não está, ela se encontra presente no mundo através de suas várias consciências. inclusive algumas delas emanada do próprio Artista-messias.
E uma dessas consciências não se dá tão simplesmente com Bispo. O que está aqui em jogo é justamente o contrário. O desarme desses juízos. Para entrar na “aura” de Bispo é entrar totalmente nu. Walter Firmo e José Castello se aventuraram, sendo eles os primeiros a penetrarem neste mundo (na época, Bispo não era a figura que conhecemos hoje e ambos, fotógrafo e repórter foram escalados aleatoriamente pela revista Isto é da época para cobrirem um personagem de problemas mentais mas que chamava atenção pelo que fazia de “exótico” já que nesta época exisita um espirito que começava a buscar o simbolo do anti-herói).
Nada valerá por completo ao acompanhar as fotografias da exposição sem se dirigir para o fundo da sala e acompanhar o vídeo (que é de um tempo tolerantemente curto). As fotografias das obras do Bispo tomam para si o status quando estas, em certo paradoxo com Walter Benjamin, resgata justamente sua “aura”. Aura esta que o próprio Bispo questionou aos seus interlocutores antes que estes tivesse acesso à suas obras, na época e que agora, os envolvidos metaforicamente se apropriam de suas sombras (a do Bispo) como um mistério do artista. Você entenderá ao ler o já destacado ótimo texto curatorial de Flávia Corpas.
Enfim, vale a pena assistir a esta exposição. Mas vá desarmado para assim mergulhar na loucura de uma grande artista (ainda que não seja pelos tramites canônicos, mas já canonizado pelo mundo da arte), e fugir um pouco desse mundo cada vez mais certinho, controlador e normativo.
Quando: Centro Cultural Caixa Econômica Federal
Horário: 10h às 21h (3as a Domingos)
Onde: Avenida Almirante Barroso, 25 – Centro Rio de Janeiro
Período: 15/09/2013 a 10/11/2013.
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