De vez em quando, me permito sair
aos domingos para quebrar o velho estigma de que este dia é o mais tediante e
angustiante da semana. Mas a cidade, como referência cultural também precisa
colaborar. E neste domingo (06/04) a cidade resolveu ser generosa. O local foi Audio Rebel, em Botafogo, ao
receber o rap de São Paulo mistura doida de MC Sombra em um show intimista e
aconchegante.
Com canções que escapam do
dialeto local (a exemplo da musica
Rap do Brasil)
e assim tornam-se diversos dialetos que transcendem as fronteiras demarcadas
pelas categorias culturais estratificadas, (é o que a própria canção
movimenta-se sugere: Não ficar parado. Seguindo
os fluxos dos cotidianos linguísticos e culturais), percebemos as influências
regionalistas vindas do mangue beat, ska, funk carioca, hip-hop, samba rap etc.,
ao mesmo tempo que ouvimos vozes de
Sabotage
e Racionais Mcs em toda a sua musicalidade local em perfeito diálogo com
Chico Science e Zé Ramalho, do Outro
.
As letras representam bem o
carisma e bom humor de
Mc Sombra. É por
isso que funciona, porque é sincero e assim os shows tornam-se uma liturgia
mundana, porém de irmandade entre aqueles cuja conectividade se complementa e
se confraterniza por intermédio de suas canções, que com microfone em punho e
proferindo palavras metafóricas entre uma canção e outra, sem serem
pretensiosas, diz para seu publico algo do tipo que naquele momento “todos estamos
nos divertindo, mas com seriedade". Da mesma forma que conversamos desarmados no
cotidiano, em que os diversos recursos linguísticos que recorrem ao figurativo são mais significativos e reais que as formalidades que se
encontram fora dos bares e campos de futebol. Uma seriedade que habita o protesto
sem seguir um manifesto formal. Uma diversão que abriga uma consciência política
e social que tanto precisamos cultivar nestes tempos de territórios definidos
pelo globalitarismo.
Canções como
Noticiário estéreo ganham uma colagem carioca local. Provando que o
seriado
Spectreman de gerações
passadas já anunciava a problemática que assolaria o mundo contemporâneo.
Piada
Cabeluda é um protesto bem humorado das questões raciais no Brasil. O
Cabelo como identidade e patrimônio racial ganha um discurso jocoso e inevitavelmente
não deixo de me perguntar inspirado em sua canção: O que é cabelo bom e o que é
cabelo ruim?
O show termina e voltamos para o
nosso
cotidiano, levando em nossos corações a mensagem de Mc Sombra que habita
o senso crítico e engrossa as fileiras de nossas manifestações do dia-a-dia. Mas
acima de tudo, humor e amizade que rompe qualquer preconceito racial, regional e
centralizador. Desejando que sua volta às
terras cariocas seja breve. Porque no fundo carecemos dessas liturgias mundanas.
No demais:
me
explique e me diga direito,
é bem melhor assim.
Vou questionar os demais
Nenhum comentário:
Postar um comentário