Madame Satã -- O Importante é Ser Eu e Não o Outro
Madame Satã -- O Importante é Ser Eu e Não o Outro
Em vinte e um de outubro de 1983, na Rua Conselheiro Ramalho, 873, nasceu
o Restaurante Cultural Madame Satã. Uma revolução na noite paulistana. A
partir do sonho de dois irmãos -- um deles ex-seminarista -- e de duas
irmãs, que participavam de teatro mambembe nas periferias da cidade, a
casa começou a surgir.
Engajados no teatro, os quatro reuniram-se e
decidiram criar um espaço que, mais tarde, culminou em uma inestimável
contribuição para a disseminação de todo o tipo de arte. Márcia e Miriam
Dutra, Wilson José e Williams Silva, sem saber, deram início ao que se
tornaria um templo, um mito da noite paulistana. Com a ajuda de José
Cláudio Mendes (Zé Cláudio) que, além de ser um engajado no assunto,
tinha acabado de retornar de Nova Iorque, trazendo muitas ideias e
inovações, o espaço passou de Restaurante Cultural a casa noturna e
abrigou desfiles, shows, peças de teatro, performances e muitas
histórias.
Desde então, nada continua o mesmo. Suas paredes ainda
ecoam as vozes das almas que ali passaram, gritando e exclamando por
liberdade, felicidade, socorro, atenção. Um local onde quem o habitasse
poderia se sentir inteiro, completo. Experimentar novas sensações,
conhecer outras pessoas e alimentar-se de informações.
Em nossas
mãos, pudemos lapidar mais do que a história de uma casa noturna. E,
pode ser que a princípio se julgue assim, mas um olhar mais crítico e
cuidadoso permite perceber uma temática bastante elaborada além da
simplicidade inicial.
Na década de 1980, o Brasil sofreu inúmeras
transições. No centro das atenções e dos problemas, o Regime Militar
instaurado em 1964 paulatinamente esvaía-se, permitindo à população
ganhar mais autonomia e poder de decisão em diferentes âmbitos.
Historicamente, a cidade de São Paulo tem sua importância que aumentou
gradativamente no decorrer do último século. Nos anos 1980, a capital
paulista já era uma metrópole com os ares da miscigenação populacional,
causada pela migração e imigração.
Economicamente, já era a principal cidade do país e, culturalmente, um polo de informações e ideais.
O
Madame Satã trouxe para São Paulo o conceito de cultura underground.
Neste espaço, a juventude paulistana pôde expressar e experimentar suas
faces, mostrar sua irreverência e testar sua ousadia.
Hoje, quase 30
anos depois de seu auge, a casa foi reaberta sob o nome "Madame" e sem
vínculos com os antigos donos. Alguns frequentadores continuam nos
caminhos de antigamente. Outros pegaram os desvios do destino e seguiram
em direções opostas. Família, idade, trabalho, sonhos. Tudo agora é
diferente. Entretanto, todos têm dentro de si as lembranças de um tempo
que ficou para trás, com experiências que não voltam e com muitas
pessoas que já morreram.
O documentário é um quebra-cabeças de
lembranças, que tenta levar para dentro do Madame Satã quem nunca esteve
entre aquelas paredes, assim como levar de volta ao casarão quem lá
viveu estas tantas histórias.
Produzido e editado por:
Daniel Mori
Gabriela Prosdocimi
Nivia de Souza
Raphael Calles
Imagens e Edição:
Rafael Ribeiro Mori
Márcio Komesu
Contato: docmadamesata@gmail.com
facebook.com/docmadamesata
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