sábado, 14 de dezembro de 2013

Sexualidade e Feminilidade no Ocidente: O Erotismo e seu tabu na religião e na História da Arte. - Parte 1.


Breve introdução:

              O universo feminino sempre foi um terreno fascinante e bastante perigoso para se pisar seja lá de qual gênero pertençamos.  Ainda mais quando visto do ponto de vista erótico e religioso. Elementos que o mundo da arte se valeu durante muitos séculos para representar o universo feminino e seus mistérios são totalmente diferentes do que vemos hoje na contemporaneidade onde as tensões voltam-se para uma autonomia libertária feminista inclusive de sua própria ideia de gênero em encontro à questões cada vez mais sociais e politicas. A mulher moderna e principalmente a artista moderna não precisa mais ser representada segundo as perceptivas masculinas que inevitávelmente sempre carregaram os vícios do patriarcalismo sobre o falso ideal romântico. 

Mas é inevitável que tenhamos que trilhar todo este caminho. ao menos dentro de nossa visão ocidentalizada. Mas aqui parecerá perceptível mesmo na visão ocidentalizada, seus elementos parecem surgir mais além do oriente. Mas não irei tão longe de meus limites, mais do que já estou indo.  Então caminhemos:
Eugène Ferdinand Victor DelaCroix
 Sexualidade e religiosidade na arte: fuga de Medéia ao encontro de Gaia.

Paul Cézanne
              No mito de Medéia, sua astucia em planejar a fuga, principalmente matando o próprio irmão para cumprir o intento. Assim como, antes disso, ela ajuda Jasão a reclamar o Velo de ouro, nos parece simplificar por demais sua faceta que culminará num suposto descontrole emocional. Mas sabemos que tal mito é muito mais do que isso. Se em Eurípedes, Medéia é vista como fria e calculista; carregada por um desejo de vingança, Isabelle Stengers nos desvela uma Medéia que vai evocar a voz feminina nas artes. Um grito que nos remete aos pré-socráticos. Onde o elemento feminino é carregado de pureza, sexualidade e fertilidade. Se o elemento religioso sempre esteve presente como mecanismo castrador das artes, a mulher em gênero sofre interditos mais graves e em muitas vezes estes interditos não foram mediados única e explicitamente pela instituição religiosa, mas pela própria sociedade como um todo que vai refletir em sua formação cultural. Resultado de um sistema patriarcal fundado por estas mesmas bases religiosas. A própria Bíblia começa sua história da humanidade acusando a mulher de cometer o primeiro pecado. O chamado pecado original. E o pior: ela induziria o primeiro homem da humanidade a cometer este pecado. Eis o que a religião moderna como um sintoma do patriarcado produz como símbolos através de sua iconografia.

Gaia (ou Géia) é o elemento de retorno e reivindicação da expressão feminina no mundo contemporâneo. Uma sexualidade simbolizada que vai em rota de colisão aos interditos canônicos remetidos ao monoteísmo cristão. Vemos então na pintura de Anselm Feuerbach (1829-1880), Gaia uma certa aura de  pureza, sexualidade e fertilidade. Repleta de sensualidade metafísica, mas ao mesmo tempo, nos remete a maternidade. Deusa da mitologia grega é mãe-terra. Potência latente, porém colossal dada força geradora de todos os elementos. Em quase toda mitologia ela aparece com esta mesma força e elementos de representação. Sua simbologia estritamente ligada à fertilidade, nisso emana um poder sexual que vai gerar todas as coisas. Primeiro elemento gerado do caos. É também aquela que vai criar a harmonia sobre todos os outros elementos, por isso é também remetida à maternidade. Maternidade e sensualidade parecem estar bem representadas nesta pintura de Feuerbach. Os seios e o anjo infanto, parecem aproximar Gaia da maternidade, assim como seu corpo parece se oferecer em erotismo ao expectador em uma espécie de procedência do sagrado pelo âmbito profano na existência terrena.

  São Sebastião: A figura masculina cuja iconografia se perde entre o sagrado e o profano no tabu da igreja católica.

              Como bem sabemos, a religião é carregada de sacrifícios e sexualidades. Por si só o interdito que impede o explicito na sexualidade é quebrado pelo sacrifício devido a sua violência.   Um exemplo disso é a iconografia de São Sebastião. Seu vulto histórico mistura-se com o da sua mitologia. Eis uma das versões de sua figura histórica:
  Nascido em Narvonne, França, no final do século III, mudara-se com seus pais Milão onde crescera e recebera educação. Cristão por influencia da mãe, fora alistado pelo pai nas legiões do Imperador romano Diocleciano onde conquistou o posto de capitão de sua guarda pessoal . Quando descoberta a sua fé cristã o imperador na qual tinha muita estima por ele ordenou que ele renunciasse ao cristianismo. Sebastião manteve-se fiel a sua fé e então o imperador ordenou que o executasse. Amarrado a um tronco e totalmente despido Sebastião foi executado com uma chuva de flechas e deixado para morrer por sangramento de seus ferimentos. O que não aconteceu. Fora resgatado e cuidado seus ferimentos por uma mulher conhecida Irene (posteriormente canonizada). Possivelmente mulher do mártir Castulo. Ao se recuperar Sebastião foi ter com o imperador e acusá-lo de inimigo do cristianismo no fim foi então executado por espancamento.

              Assim como tantos mártires do cristianismo Sebastião optou pela morte que renunciar a sua fé. Se o sacrifício exige a transgressão em si a própria negação desses mártires em não seguir uma norma é também a quebra desse tabu. A bíblia é repleta desses paradoxos.  Na vida também: não é a toa que determinados grupos vitimizados por intolerâncias sejam elas raciais, sexuais ou até mesmo religiosas (de outras religiões e principalmente as politeístas) "canonizam" dentro de sue grupo alguns desses santos e não necessariamente sendo santo, mas que de alguma forma passara por algum tipo de martírio (podemos citar a história ainda obscura de Zumbi.).  No mundo contemporâneo vemos a inversão desses tabus. Principalmente no que diz respeito à sexualidade e a religiosidade. É o que foi o caso da artista Márcia X que teve seu trabalho retirado da exposição no CCBB do Rio de janeiro em 2006 e que irei abordar mais a frente. Ou seja, é a igreja, como sistema vigente de valores, que passa a ser questionada pela arte, ainda que de forma subjetiva, através do erotismo que vai mexer nas estruturas desses interditos.
  A arte, antes disso, serviu durante muito tempo a igreja, mas em sua simbologia podemos perceber aspectos sutis de erotismo. Se a igreja percebia esses símbolos, remetia-os ao sagrado. É o que Bataille vai dizer em seu livro O Erotismo“a religião comanda essencialmente a transgressão dos interditos.”(p.41). A arte então, em seu serviço a igreja estaria se rebelando ainda que de forma sutil?

              De volta à figura de São Sebastião, podemos perceber em sua imagem um erotismo carregado. Retratado por vários artistas e até mesmo perceptível tal erotismo em alguns santinhos distribuídos popularmente pelas igrejas católicas de várias cidades e inclusive no Rio de Janeiro. Sua imagem sugere um corpo masculinizado cujo foco sexual se encontra no movimento de seu ventre e de suas faces andróginas que atraem de certa maneira tanto o expectador masculino quanto o feminino. O mais contemporâneo Sebastião pode ser visto na galeria Cândido Portinari na Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ. Lá encontraremos o quadro Sebastião na exposição (figura logo abaixo à direita) "What about tomorrow" do artista Angelo Volpi. Pintado à óleo o quadro parece ser uma intervenção, mas pintado pelo próprio artista ele é uma apreensão de toda a icnologia que este santo carregou através dos tempos.  Sua jovialidade angelical é harmoniosa para olhos cuja a visão ocidental fora condicionada a conceber a ideia do belo caucasiano (quadro à esquerda). Não é a toa que seu ícone é uma das referencias do movimento gay. Na pintura de Angelo Volpi atributos tecnológicos e a tatuagem em seu corpo, além de reforçar sua sensualidade mais atuante, invoca um ar de desprendimento jovial. Vale apontar que este quadro foi feito especialmente para a exposição na galeria Cândido Portinari, no Rio de Janeiro.
Este é o sebastião de Angelo Volpi.
              Além disso, no âmbito religioso, percebemos em sua face em sua grande maioria das vezes em que é retratada, uma expressão de total resignação ao sacrifício e outras vezes como em êxtase. Mas sempre estas faces voltadas para o céu. Talvez aí esteja o fato de a igreja permitir uma iconografia cuja dor tornar-se prazer pelo sacrifício da redenção. A transcendência da carne para o espiritual em sua forma mais violenta. É o que vai garantir a continuidade da fé pela morte e sobrevivência dela despertando repudio, inconformismo e admiração. Mas o que não pode escapar é outro dado no que diz respeito a sua simbologia ao representar esta dor ou prazer ser provocada por objetos pontiagudos, que são as flechas que mais remetem a símbolos fálicos.




Fim da parte 1.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Bispo do Rosário e a Arte Nova: fronteiras perigosas na perspectiva de redenção em Assim Falava Zaratustra.




A redenção de que Nietzsche propõe em seu livro Assim falava Zaratustra, em especial no capítulo cujo título é o tema aqui discutido, evidentemente não é carregado do mesmo sentido em que conhecemos de nossa formação cultural. O nosso entendimento a esta “velha redenção” sempre nos diz respeito a um sentido resultante de uma intervenção da culpa cristã através de sua moral. Elementos que habitam e se encontram enraizados em nosso logos social. Nietzsche parece nos mostrar como tais elementos operam sobre nossas vidas através de uma punição pela memória e/ou ressentimento e em segunda instancia, nosso corpo.

Mas para compreendermos a redenção de Assim Falava Zaratustra precisamos entender antes a redenção tal qual fomos condicionadas em nosso processo de apreensão cultural na nossa primeira infância. Georges Bataille em O Erotismo nos apresenta uma ideia de religiosidade que remete bem antes da formação social em que fomos submetidos. Talvez no período de transição em que o homem abandona o nomadismo e passa ao sedentarismo. A religiosidade aqui ganha sentido literal de trabalho. O que podemos entender como algo contínuo e ritualístico. Com o tempo e a consolidação social através de suas organizações culturais (artefatos, códigos de conduta, leis, etc.) a religião como suporte metafisico dentro de uma estrutura organizada passa a ganhar uma série de normas, também como leis e códigos de
conduta, dentro desse sistema e que conhecemos como doutrinas. São estas doutrinas que irão também influenciar outros setores da sociedade através dos interditos. E são estes mecanismos descritos que foram sendo construídos durante milhares de anos e que também foram inibindo nosso poder criador. E é exatamente esta redenção, que nasce no mecanicismo primordial e se instala na sociedade como sentido religioso, que Nietzsche procura derrubar para propor a sua redenção.

Como poderíamos assim começar a entender esta nova redenção que Zaratustra nos trás? Podemos usar um fragmento do capítulo Da redenção:

“O povo, contudo, dizia-me que a orelha grande era não apenas um homem, mas um grande homem, um gênio. Eu, porém, jamais acreditei no povo quando ele me falava de grandes homens, e confirmo a minha opinião de que era um aleijado às avessas que tinha pouquíssimo de tudo e uma coisa em excesso.” – (Nietzsche. pg. 106)

A ideia do gênio que aqui poderia ser entendida como uma espécie de “eleito do povo”, é o gênio constituído no status quo. O iluminado e só a ele legitimado a tornar-se o grande homem; o homem completo ou àquele que cria. O criador que para
Zaratustra não passa de um “aleijado às avessas”. Para Nietzsche, o gênio, nada mais é que categoria de distanciamento da experiência individual e ainda mais como anulação coletiva assim também como anulação da própria vontade (que aqui tem em seu antagonismo representado no povo). O gênio como elemento de estratificação. 



Nietzsche nos mostra que a vontade é uma potencia inerente a qualquer vida. E esta vontade cuja força se renova da própria destruição de si mesma para gerar a criação no momento seguinte não é um “dom” ou “talento” divino onde poucos são privilegiados.  Todos os seres possuem esta vontade, a vontade da existência. A vontade
criadora surge de nossas necessidades de continuidade. Até quando trabalhamos em atividades que não nos estimulam projetamos para o futuro os nossos anseios. O problema é que muitas dessas atividades em que trabalhamos não contribuem em nada para a nossas projeções principalmente quanto às atividades autômatos. Ou seja, de repetição. Onde só fazemos por subsistência, não tendo outra escolha, nos anulamos como seres criadores.  Em sua dissertação, Suellen da Rocha Gomes nos mostra que pelo menos em nossa imaginação, exercemos nossa potencia criadora dentro de uma “existência penosa” como na vida e obra de Franz Kafka:


“Na análise de Kafka, a existência penosa do homem e sua tentativa de livrar-se dela, ao menos pela imaginação, motivava a construção da metamorfose nos livros, expressando uma vida natural, na qual o homem não precisasse se encarcerar atrás das grades que carregava consigo. As construções cotidianas retiravam do homem sua liberdade para impor modos de vida amarrada e sujeitada:” (Gomes, Suellen, p.67, dissertação)

Outra constatação que poderíamos considerar são as nossas atividades durante o sono. Nossos sonhos é o reflexo e prova de que criamos quando estamos dormindo. Lá vivenciamos experiências totalmente distintas do que vivemos em nossa realidade quando estamos acordados. Trazemos de volta os mortos, em especial aqueles que
mais amamos; vivenciamos a experiência de nossa própria morte; realizamos nossos desejos mais íntimos e nos deparamos com nossos maiores temores em cenários que talvez jamais pudéssemos reproduzi-los em nossa realidade convencional. A proposta dos Surrealistas chegou perto, de fato, mas seu comprometimento politico e ideológico ainda era a ancora que os mantinham atracados na realidade. Assim como o personagem de uma célebre história em quadrinhos de Neil Gaiman, Sandman, personagem mitológico, faz uma aposta com a sua irmã, a Morte no dia em que esta última levaria para o reino dos mortos um morador de rua. O mestre dos sonhos teria que tornar aquele andarilho urbano em um rei. Aposta feita Orfeu, durante o sono do andarilho, sopra-lhe nos olhos um pó mágico. Ao acordar o mendigo acredita realmente que se tornara rei. Sua realidade sensível não se altera em nada. Porém, outros moradores de rua tornam-se aos seus olhos seus súditos passando ele mesmo a “cobrar impostos” (que na visão dos que eram abordados por ele pedido de esmolas) dos transeuntes pra distribuir aos seus súditos; sua cartola suja e amassada tornar-se sua coroa; até o dia em que a Morte, após perder a aposta e por isso estendeu o tempo de vida ao morador de rua em mais um dia, enfim o levou para o outro mundo.

Esta fábula contemporânea explica bem o quanto, às vezes, precisamos mergulhar na experiência para vivenciá-la. Como nos ritos religiosos que precisam de sua fé como elemento principal de todo processo e nos desligarmos do mundo, como a própria experiência do corpo e do olhar no teatro em que é preciso ficar de fora todos os pudores sociais que nos constituíram como gêneros, raças etc. os tempos modernos, constituído por séculos de sociedade no sentido organizado, só serviu para inibirmos, tanto o corpo quanto nosso poder criador. Memória e corpo; infectados pelo vírus da memória e da culpa. Elementos que obrigaram a bem pouco tempo atrás em fazer com que uma jovem mãe entrega clandestinamente seu filho para uma outra jovem cuidar sem que o pai da criançasoubesse.
A mãe havia traído seu marido. Em uma cidade pequena de Minas Gerais em que viviam, todos comentavam que a criança não parecia com este pai(mais por saberem do fato do que por constatação física). A mãe sentindo-se culpada pela memória tentou castigar seu corpo materializado no seu filho entregando-o a uma outra menor na cidade do Rio de Janeiro. Outro fator bastante interessante é, diante da imprensa, acionada pelo pai da criança, a mãe narrou uma história inverossímil, porém bastante convincente. Lágrimas rolaram de seu rosto em uma encenação digna de uma grande atriz. Não estamos aqui desdenhando dessa cena, pelo contrário, podemos repensar de fato que muitas vezes a experiência não precisa ser experimentada pelo fato em si, mas pode ser experimentada gerando o fato como seu testemunho (como nas artes). E detalhe: não há nenhum artista crismado pelos cânones da arte da arte aqui. E sim a própria vida recriando a si própria como obra de arte.


Ainda seguindo um pouco da linha de análise de Suelen, é através de uma metamorfose, nossa potencia criadora poderia de fato livra-se das amarras de uma existência burocrática. Mas não uma metamorfose transcendente e sim de transvaloração. Tornar-se outra coisa sem criar novos valores. Mas destruí-los a cada ato. Um aspecto que a nova arte, como arte contemporânea tem tentado buscar
inclusive na quebra do artista como o criador da obra colocando-o ora “como guerrilheiro” de uma ação e assim pondo seu publico em constante estado de alerta (e este alerta como urgência é o próprio estímulo criador deste publico); ora como um “propositor” em que tanto este artista e este publico se colocam em situações em que até mesmo o próprio artista possa ser “vitima” de seu jogo que não é mais dele, mas do mundo como objeto de apropriação (Morais, Frederico). 



 Mas para ter sobrevivido a esta transfiguração, Bispo do Rosário, assim como Gregor Samsa em Kafka, confronta seu corpo e sua memória. E uma não pode se
desvencilhar da outra porque, assim como Kafka, A vida de bispo é intrínseca a sua obra. E não estamos falando de autoria. Eles foram mais longe porque transformaram (transfiguraram) suas vidas em obras de arte mais até que qualquer artista ou Reality Show poderiam chegar. Até mais longe foi o Bispo porque este sim havia mergulhado na vida longe de qualquer representação. Bispo do Rosário olha para a sua memória onde lá habita todo o ressentimento cristão ele parece dizer Eu sou agora o messias, o próprio Cristo. Você não pode me castigar, o que fará a respeito?
E então ele olha para o seu corpo (sua obra); sua pele carrega a cor e os flagelos de uma etnia negligenciada pela história. Pega estes elementos da africanidade e diz, estes são os elementos que salvarão o mundo. O lixo dispensado após absorvido pela sociedade moderna será exatamente o que a salvará do juízo final.


Talvez seja a destruição dionisíaca de toda a categoria e do puro conceito “criação” que a arte possa de fato ser pura como criação? Para que ela se mantenha pura seria preciso que no instante seguinte ela não mais exista para que não a classifiquemos como obra de arte? Nela não haveria sequer a representação da arte. De qualquer forma, discutimos aqui a posição do artista na arte e na sua realidade social. A obra de arte ainda se sustenta, pois seu testemunho sempre nos fornece novas experiências.

 Talvez embora a Nova arte esteja de fato propondo uma estética do riso como afirmação da vida. Porque talvez ela esteja rindo dos valores que colocamos na
existência. Assim celebra a vida. Mas na vida, a arte parece estar presa na representação porque mesmo querendo ser outra coisa através sua experiência ritualística e seja no corpo ou fora dele, ela parece ainda estar ancorada nesse querer. O artista talvez seja esta ancora. O próprio objeto de arte tem sua autonomia quando opera no mundo. Vemos que a arte ainda sobrevive. O que não é tão simples porque esbarramos sempre em campos de tensão como a ética, por exemplo.  Mas independente de como a arte e em especial a arte nova esteja lidando com isso, sabemos que vivemos em um mundo possível, o mundo em que nossas experiências no campo criador podem nos levar a lugares incríveis e ao mesmo tempo perigosos.

Fontes de pesquisa:


Bataille, Georges.  O Erotismo, L&PM Editores.
Nietzsche, Frederich. Da redenção. In: Assim Falava Zaratustra. Hemus – liivraria Editora Ltda.
Gomes, Suellen da Rocha. Ser escrito a escrever-se na vida: protagonismo do corpo em conexões entre Nietzsche e Kafka. Dissertação. 2013.
Morais, Frederico. Contra a Arte Afluente: o corpo é o motor da “obra”. In: Bausbaun, Ricardo. Arte contemporânea brasileira. Rio de Janeiro: Rios Ambiciosos, 2001.

 agora você pode baixar o arquivo em PDF clicando aqui.

domingo, 1 de dezembro de 2013

LYDIA LUNCH



LYDIA LUNCH: Nossa eterna madrinha! Direto das profundezas do No-Wave!

SMOKE IN THE SHADOWS! DOWNLOAD!



quinta-feira, 28 de novembro de 2013

A arte que reverbera musica e uma outra exposição cuja divulgação não faz jus a semana pós-Zumbi.


Notas gráficas – gravuras contemporâneas.

Seria um crime de minha parte deixar de visitar uma exposição que fica a 20 minutos de ônibus da minha casa. Ainda mais, uma exposição que de fato responderia minhas expectativas. Digo isso porque as exposições que eu tenho visitado aqui na baixada não foram muito estimulantes. A maioria simulacro de exposições. Porque no fundo não abordavam nenhuma discussão limitando-se a meros objetos exóticos nos trazendo sensações de deja vu. Nada mais que isso. Talvez isso se dê pelo fato das instituições, que organizam estas exposições, não levarem o publico longe dos centros urbanos (e em especial da baixada) tão a sério. Se for uma falsa impressão de minha parte pode até ser. Mas indícios é o que não faltam.
Mas existem pessoas sérias que apostam na arte e nas pessoas sem distinções. Pessoas sérias cuja preocupação é provocar diálogos entre o público.  Aqui no caso, a gravura o publico através de outro diálogo. Com a musica.

E funcionou. No momento em que estive na exposição pude ouvir alunos de escolas publicas debatendo sobre as obras e seus “ruídos” que escapavam daqueles quadros e emanavam pelo labirinto da galeria. Ruídos visuais. Compreensíveis dentro de sua linguagem. 

A minha ida já valeu pelo fato das colagens (que para mim é uma grande paixão nas gravuras) terem um destaque fundamental nas composições dessas obras. Elas se assumem como colagens, mas meio que quebram a harmonia perfeita de suas notas buscando assim o improviso. Obras como as dos artistas Mario Goldzweig  (Jazz & Bossa); André Miranda (Black) me remeteram ao lúdico, da época de minha infância em que eu colecionava álbuns de figurinhas. Loo Stavale em obras como Dança Selvagem carrega toda a sua carga disco music em um perceptivo espirito fanzineiro. Sua deusa Shiva, divindade feminina e “não-grega”  transita através dos tempos. Em suas mãos, ao invés de elementos de sacrifícios, instrumentos musicais; o Jazz de Paulo Jorge Gonçalves nos permite ver todas as suas notas escapando da harmonia convencional e assim criando ruídos. Enfim, Marcelo Oliveira, transita entre o popular e o erudito, quando mescla estas vertentes culturais de nossa realidade social tão oposta em simples convites ou entradas de shows, pondo em cheque o que é legitimado como musica e o que é apenas ruído inculto.

 A exposição vale a pena ser visitada. Primeiro porque ela estabelece diálogo com outro evento no Sesc de Nova Iguaçu (Sesc Amplifica Bossa & Jazz) em que a musica presente irá proporcionar novas formas de ver a arte e vice-versa; e sobretudo, os artistas aqui envolvidos são pessoas cada vez mais interessadas em aproximar um publico, não especifico, mas de formar novas públicos fora do eixo centro-zona Sul.  Mas vá logo porque esta exposição só vai até o dia primeiro de dezembro.

Consciência humana- as essências da afro-brasilidade.

Exposição não divulgada sequer pela instituição (até este momento que escrevo). Talvez eu esteja realmente imaginando coisas só porque esta exposição trata uma questão ainda não muito resolvida em nossa sociedade: consciência negra. Ou questões raciais, como preferirem. Mas o assunto é o mesmo. Eu, ao visitar a exposição Notas gráficas – gravuras contemporâneas, a convite de uma amiga que tem seus trabalhados expostos nesta exposição (Loo Stavale), casualmente percebem (e fui presenteado por isso) que ali que havia uma outra exposição que sequer foi citada em nenhum canal de mídia ou ao menos na internet, ao menos na semana da consciência negra.   

Mas enfim, por conta destes detalhes fico aqui sem saber ao menos o nome do curador e os principais motivos que fomentaram o projeto. Mas não deixo de mergulhar nela. E o que vejo é uma aula do quanto à arte de fato não é domínio de poucos privilegiados. Ela é acessível a todos. Todos nós somos capazes de fazer arte sem um gênio artístico.
 A exposição em si funciona como memória. Mas não uma “memória primitiva” como teimamos em estigmatizar um povo; uma etnia. A memória é uma memória contemporânea. Do lugar. Do aqui agora, mas ainda prestando respeito com o passado. Esta memória é a nossa diáspora. É aqui que devemos assumir nossa afro-brasilidade.
Instrumentos étnicos que são aqui reproduzidos por artistas contemporâneos (Fallou Diop), e esculturas que remetem a Giacometti Fanta e Falla Dioup e as fotografias documentais e cotidianas de Ymoraz 2007/2008, nos levam ao velho continente africano. Longe das imagens desgastas do sofrimento, mas de um povo que tenta se reerguer no pós-colonial. Imagens magnificas de extrema beleza estética.
Mas certamente é na série Cartão postal do instituto de alunos d’Espoir, Senegal, 2011, que passamos a entender que a arte é de fato a própria vida, logo, toda a vida é obra de arte. E somos criadores, logo, capazes de produzir arte. E isto fica evidente nos seus retalhos de tecido sob papel cartão.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

domingo, 24 de novembro de 2013

FUNKERO - "ADEUS" (prod. xara)



Adeus

Mc Funkero

Lembrança viva na alma,estrela brilhante
Já sonhei bastante,nada mais vai ser como era antes
A vida é assim,sei que o mundo e um moinho
A gente nasce,cresce junto,depois morre sozinho,o caminho
Foi iluminado,agradeço a Deus por ter dado
A grande honra de ter vivido ao teu lado
Todo nosso passado tá vivo no meu presente
Me ensinou que a gente pode fazer diferente
Me ensinou a ser pai,,me ensinou a ser homem de verdade
Não fugir da responsabilidade
A febre da cidade tentou destruir nossa família
Eu pergunto a Deus se haverá justiça um dia?
Os covardes que te alvejaram não apagaram sua história
Pois você continua vivo na nossa memória
Cada olhar do seu sobrinho tem você refletido
Cada lagrima minha,a dor de você ter partido
Adeus,adeus
Saudade eterna de um tempo que não volta
As cenas passam em câmera lenta,a fita num volta
Lembro da gente na praça,vários irmãos reunidos
Muitos deles,inclusive tão aí em cima contigo
Qualquer dia a gente se encontra,vai ser sempre assim,
Eu olhando por você,você olhando por mim
O bairro que a gente cresceu levou sua vida
Mas a lição que você deu foi viver bem a vida
O covarde que nos fez isso tá morto em vida
E você no nosso peito continua vivo na morte
Descanse em paz,que eu to forte
Enquanto houver historia eu vou lutar,enquanto eu conseguir respirar
Pra sempre eu vou lembrar do meu mano fiel
Que iluminou nossa terra e virou estrela no céu
Hoje meu dia foi de choro,pedi a meu Deus
Me ajudar nessa hora só pra eu te dizer adeus
Adeus,adeus

BOLA OCHO n.1 by Daniel Clowes




BOLA OCHO, número 01, por Daniel Clowes DOWNLOAD

FRANK n.01 by Jim Woodring





FRANK de JIM WOODRING N.01 DOWNLOAD

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

As Fronteiras Intransponíveis - Capítulo 1

  
          Um dia de celebrações mórbidas. Era uma tarde típica de Outono, embora as estações nesses tempos de agressões químicas contra a natureza tornam-se confusas. Porém, as nuvens cinzentas ejaculavam sua fina chuva contra aquele cenário. Além dos túmulos de pedra e barro, a vegetação úmida e as pessoas que usavam seus trajes enlutados, passavam um belo conjunto de tristezas e saudades formando assim, uma mórbida obra de arte de algum pintor incógnito e sombrio.

           Eu estava a uma certa distância dali. Entre as arvores. Em meio a distúrbios e conturbações que minha mente talvez não quisesse aceitar. Não havia vozes, lamentações e palavras culposas. Todo o sentimento era transformado em imagens sem sons. Ao me aproximar, tentava identificar os rostos entristecidos pela dor, mas até isso me foi privado de lembrar-se destes.

           Uma senhora ao lado de duas meninas, sendo que uma delas se parecia muito com o cadáver ali no caixão. E ao lado destas, um senhor de idade que talvez abatido pela doença e perda, não conseguia expressar uma lágrima sequer. Seu olhar se perdia entre o oceano de lembranças boas e de imagens que poderiam ter existido, mas que na verdade nunca existiram e nunca venham a existir.

           Havia muitas pessoas ali reunidas, mas o que mais me chamava à atenção foi ter visto um casal, para ser mais exato, e não pareciam ter mais que cinco anos. Talvez fossem seus filhos que ali se encontravam. Filhos daquele corpo inerte. Crianças tão jovens para conhecerem o fim de uma existência. Forte demais para quem chegara há pouco tempo para deslumbrar a existência.

           Não era mais uma criança cujo corpo que ali repousava naquela caixa mortuária, mas também não era uma criatura que se podia dizer que vivera muitos anos. Talvez o suficiente para se apaixonar, procriar, viver em grupo e depois renunciar em tão pouco espaço de tempo o doce paladar da juventude. Não importava mais e de nada adiantaria saber seus nomes e o que cada um representava para o outro e para aquele defunto.

    A cama fora lacrada e levada até o local do sepulcro. Uma procissão de vinte pessoas acompanhava o casulo sem vida daquele rapaz. Algumas choravam, outras riam e contavam piadas diante daquele cenário mórbido, mas mesmo assim, a atmosfera que os envolviam era mais contagiante que suas fugas particulares. Outras se apegavam na possibilidade de existir um lugar melhor. Que Deus poderia guardar para aquela alma, o descanso eterno enquanto os mais céticos procuravam lembrar-se dos momentos inesquecíveis que passaram ao lado daquele que um dia tivera vida como eles. Tudo que haveríamos de descobrir através de nossos espantos ao ver um cadáver ali no chão já não surte seus efeitos. A morte em si, sua religiosidade assim como seu rito são rapidamente esquecidos pelo cotidiano indiferente da existência progressista e relações fúteis. Aprendemos como é que se morre. Mas ainda desaprendemos como é que se sente.

  Parecia que o viajante temporal era um personagem de carismas extremos, embora, além de rostos tristes e inconformados, haviam outros indignados e revoltados ao que parecia direcionado ao defunto. Mas não importava as opiniões e pensamentos. O caixão chegara ao seu destino. Pás jogavam terra na cova onde este fora depositado enquanto aquela típica canção cristã executada em nossos funerais aumentava ainda mais os dolorosos prantos de dor. Pude identificar pela leitura dos lábios. Aquilo me deixava ainda mais perturbado. Como se a mim próprio já estivesse passado por tudo aquilo.

Quando a ultima pá de terra fora jogada, a chuva tinha se dissipado. As pessoas, aos poucos, iam se debandando, restando apenas a garota e seus dois filhos. Agradeci a Deus por naquele momento, ter me privado a audição para não ter que ouvir aquelas lamentações restantes. As imagens já me diziam tudo e o pior, doía em mim próprio.

A noite chegara. A mulher, por assim dizer, recolhe seus dois filhos, foram levados para a casa por um suposto membro da família. E assim eu me encontrava só naquele cenário sombrio com um passado privado de qualquer recordação; um presente inconcebível e um futuro intangível e inimaginável. Em resumo: Eu não tinha a menor ideia de quem eu era, de como eu era e para quê eu existia. Tentava imaginar qual seria a finalidade de estar ali. De minha própria consciência. Pude me aproximar mais Daquele templo de descanso temporal. Daquele jazigo de barro. E refleti sobre o fato de ter alguma ligação com aquele indivíduo sepultado. Não adiantaria muito relutar. Sabia que não conseguiria uma resposta dali. E então resolvi abandonar aquele lugar de vez. A única maneira de encontrar alguma reposta seria andar por esta vasta dimensão. Embora a audição e o tato, até aquele momento me eram privados, eu tinha a certeza que as imagens poderiam me dizer mais do que qualquer palavra.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

EL VIBORA N.18









EL VIBORA N.18 DOWNLOAD CLASSICOS TBO DE BARCELONA CATALUNHA!