sábado, 26 de agosto de 2017

MONSTRASH 2 (Êxtase Produções, 2017)



Segunda produção de Gabriel Zamian (Vomitório Vaginal), utilizando novamento lixo, plástico e papelão, com gasto zero de produção!


Direção: Gabriel Zamian
Câmeras, gravações e fotografia: Raquel Basilone
Vítima e monstro: Gabriel Zamian
Corretora de imóveis: Raquel Basilone

Músicas:
"Puttin' on the ritz" (Taco)
"Dog burial" (Sopor Aeternus)
"Hong Kong" (Cidade Cemitério)
"Unholy copulation" (Féretero)
"Ode à fornicação" (Satan Vive!)
"Pentecostphobic" (Vomitório Vaginal)
Other noises (God Pussy)

Agradeço à Raquel Basilone por toda a ajuda, pitacos, críticas e muita paciência e esforço nesta minha nova produção.

domingo, 13 de agosto de 2017

Lux et Voluptas - ClaraCuevas

a cara de quem levou tanta porrada

queria ter menos cara de quem levou tanta porrada
queria ter a carcaça mais fina
um olhar menos esperando o próximo soco
queria esperar menos o pior de tudo e de todos
queria a dissimulação de quem diz “não, obrigado”
a irrelevância de um estúpido “de nada”

eu aguento, mas eu queria mesmo era ter
menos cara de quem levou tanta porrada

queria ter a sofisticação de uma infância tranquila
a classe da despreocupação
de um fino vestido longo estampado
ajustado a uma pele branquinha e sem eczemas
a esguiez aristocrática de quem não conhece
o gosto do próprio sangue escorrendo nos lábios
nem do sufoco da espera lastimada

eu aguento, mas eu queria mesmo era ter
menos cara de quem levou tanta porrada

eu revido sempre
deixo cicatrizes nos outros
aguento bem o tranco
mas eu queria mesmo era
o silêncio de quem esvazia a mente
de quem carrega um sorriso histórico
covarde e vitorioso
de quem sempre vence
sem calejar os dedos
a elegância de quem não aguenta
10 minutos de briga na calçada

eu aguento, mas eu queria mesmo era ter
menos cara de quem levou tanta porrada

eu desfiguro sim
algumas dessas delicadezas
e não há nada de mais nisso
cumpro meu papel de
feliz guaipeca
outra porrada
guerreira, sobrevivente
mais uma porrada
duas dezenas na conta
outra porrada
sujeita histórica de si
a fisionomia popular
que pelos punhos dos murros
dos outros foi forjada

eu aguento, mas eu queria mesmo era ter
menos cara de quem levou tanta porrada

eu sorrio cínica
não me abalo
com a boca sangrando
nunca peço desculpas
é tudo verdade
todos os absurdos que falam de mim
–  morreu, feriu, apanhou e nunca desculpou-se –
nada contra essa exatidão
mas eu só queria mesmo era sentar um pouco
com a luz do sol no rosto despejada

eu aguento, mas eu queria mesmo era ter
menos cara de quem levou tanta porrada.