Os carros, as casas,
os bairros, as massas,
as ruas, favelas, vielas e praças
As grades e muros
E homens pioneiros
toda liberdade pra ser um prisioneiro
É um passo dar o primeiro passo
É um fato mas em todo o caso
Eu vejo que tudo é desejo
Eu faço sem saber o que acho
Respiro o que não é pros vivos
E vivo cheio de cansaço
Eu prefiro ser um ser nocivo
E assim viver de quem tá em baixo
Meus olhos tão sendo encerrados
Querendo ver se há algo errado
O mundo ficando abafado
O trânsito tá engarrafado
E andando de modo arrastado
Tá tudo como deveria
Progresso pro mais abastado
E o resto no banho maria
o tédio ja virou mania
As manias ja viraram tédio
Tem prédios na periferia
E favelas na periferia dos prédios
É um hobby rico fazer lobby
E o estado é o sangue bom que cobre
Põe a mesa quando é pra empresa
Não pode quando é pro pobre
Pros nobres tanta gentileza
Foi com muita delicadeza
Que diz que a gente que sofre
Que é nobre vc ser a presa
E trabalhando de coração
Em pró da sua corporação
Vivendo igual decoração
Sua função é melhorar o ambiente
Pros otros não há nada de igual
Cada qual tá com seu cada
Uns vão de busão e
Quem é patrão
vai de caranga importada
Tantos nossos aqui reunidos
Me dizem um pouco mais que nada
Tantos nossos aqui reunidos
É, todos nessa mesma cara
Dão sua contribuição
Pra essa nossa fábrica de mágoas
Ou é o trânsito ou é o concreto ou
Talvez algo que tem na água
Todos juntos andam lado a lado
E nada que foi combinado
Tão dividindo o mesmo espaço
Sem nem ter sido convidado
São todos completos estranhos
Entre si são indiferentes
Entre si tão diferentes
Nem parecem ser da mesma gente
Mas o que une é o que separa e
Dias piores não tão por vir
Todos unidos em blocos
Competindo entre si
Eu não sei se eu entendi
Mas uma coisa eu aprendi:
Esses carros não vão voar
Vão ficar engarrafado aqui
Que a cidade tem ódio...
Mas sempre amou te dizer,
Você não odeia a cidade
Ela que odeia você...
É engraçado e poucos estão ligados
Mas muitos se sentem sozinhos
Se preocupam com o que está lá longe
Mas não ajudam nem sequer os vizinhos
A pressa em não perder o bonde
Confessam não saber aonde
Se a meta leva ao topo a sua mente
Ou até o sopé do monte
Paredes estão cheias de pixos
E as ruas tão cheias de lixos
É um mundo bem civilizado
Não há espaço pra mais nem um bicho
Não há espaço pra mais nenhuma vida
Nem vida agindo livremente
Tem vida social ativa e
Não atiça aguçar a mente
Agora eu vejo claramente
O imundo em algo limpo
Democracia é só um escudo fajuto
Porém se mantém distinto
São câmeras de seguranças
Protegem todos os recintos
Mas nada como a esperança
Pra crer não poder ser extintos
Bem vindos à mais grande floresta
Ela é fria e cinzenta
São formigas na dispensa
Consumindo esse planeta
Quem não vive ao menos tenta
Uns tornam a selva violenta
Aui é sangue misto com água benta
Pra mim ta pedindo um cometa
O império tá tão decadente e
Evita de seguir em frente que
Se ele tivesse um rosto
Nao ia nem poder mostrar os dentes
Mas pela vida de um difunto
Se eu analizar o conjunto
Envelheci fiquei mais alto
Os muros aumentaram junto
Só protegendo os meus assuntos
Tudo tá indo bem
Se eu te der chance de fuder tudo
Eu duvido que você não vem
Eu te ajudo a tu ser feliz,
A ter tudo que você não tem
Se o peão cê largo da raiz
Vem pra cá doido para ser alguém
E você tem a chance tambem
Ou pelo menos há promessa
Ou pelo menos você pensa?
Ou pelo visto não contesta
Se o que resta é tentar ser feliz
Com chuva ou com festa
Porque a bruxa tá à solta
E ainda a bruxa tá com pressa
A cidade tem mil e uma coisas boas
De ver
De se ter
De sentir
De comprar
De vender
Porque a cidade tem vida
Mas nunca ousou te dizer
Você não vive na cidade
Ela que vive em você