quarta-feira, 8 de maio de 2013

De volta à cena do crime – O caso “dos dedos” do grupo Bonde das Maravilhas.





           Nos últimos dias, tem acontecido uma nova febre nas redes sociais (Na verdade são várias em tão pouco espaço de tempo), mas pretendo destacar uma que virou alvo de comentários pejorativos, criticas e até piadinhas de momento: postado como “Bonde das analfabetas” em referencia ao vídeo exposto no you tube pelo grupo “Bonde das Maravilhas”, a imagem circulou pelas redes sociais agregando cada vez mais comentários e compartilhamentos de pessoas que defendem os bons costumes, uma vez que o funk, para estes “militantes”, em vias gerais propaga a violência, o sexismo exacerbado e também o incentivo ao analfabetismo. O que seria um incômodo para as nossas crianças.

            Pois bem, até aí, nada de novo. Mas o que de fato me incomoda são alguns pontos crucias. Entre eles: a origem social em que a maior parte dessas “criticas” partem;  e  será que realmente o funk é nocivo ao mesmo tempo em que ele é carente de intelectualidade? Será que isso é ponto pacifico e determinado? Existe de fato uma hierarquia de culturas e no caso do funk essa seria uma cultura inferiorizada as demais?

          Eu confesso que minhas perguntas não são meras retóricas fruto de uma tentativa Maiêutica de indução. Eu também tenho minhas sinceras duvidas quanto à questão do funk carioca. Elas talvez não sejam conclusivas e nem as quero. Porém gostaria de expor aqui alguns pontos em contribuição à opinião geral. 

            Já ia deixando de lado a descrição da figura mencionada. A foto editada para este fim (figura acima) mostra um momento do filme em que uma das cantoras apresenta nos dedos uma contagem do numero sete contrariando a letra da musica que fala sobre “quadrado” (E sim. Alguém se deu ao incrível trabalho de por o filme em slow motion para captar o flagrante equívoco). Ainda a imagem reforça a suposta ausência de inteligência das cantoras do grupo na mensagem da imagem que diz:
 “Além do quadrado não ter 8 lados (quem tem é octógono) não saber contar 8 nos dedos é de passar vergonha.” (sic).
            Porém, poderíamos questionar: será que de fato isso reforça um suposto encorajamento ao analfabetismo no nosso país? Ao que me parece existem muitos outros sistemas legais que de fato contribuem para tanto e nem isso é questionado como deveria ser. Se foi um erro ou não. Se foi um ato inconsciente ou planejado, já não justifica aqui uma ausência de “intelectualidade” por parte das cantoras do grupo. Do contrário me reforço aqui baseado no vídeo “A hipócrita vulgarização do funk”, postado por Cristiane de Oliveira no You tube, em  28/04/2013 na qual, entre tantas outras coisas interessantes, ela questiona quem de fato seria burro? Nós que não somos famosos e sem dinheiro ou elas que agora fazem sucesso e estão ganhando muito dinheiro com sua musica e seu videoclipe independente da gente falar mal ou bem delas? – e, diga-se de passagem, acredito ser de fato uma grande jogada de marketing fazer a gente acreditar nesses deslizes porque no fim das contas é a gente que propaga cada vez mais acessos ao vídeo polemizado - Quem são os burros nesta história? Se todos nós fossemos dotados de “intelecto privilegiado” assim teríamos uma sociedade regida por políticos honestos. Mas é claro que não se trata de inteligência, não é verdade, mas de caráter o que os nossos líderes fazem com a gente. Ou não? Só sei que eu estou desempregado, sem imaginação para ganhar dinheiro como elas estão ganhando e ainda me encontro duro sem um tostão. Portanto, não são elas assim tão idiotas quanto à gente pensa.



               Em um outro momento vi no programa vespertino do apresentador Wagner Montes que defendia o funk carioca como “cultura do Rio de janeiro, mas condenaria àqueles que usam da musica para incitar a violência, apologia as drogas e a depravação e corrupção de menores.” Obviamente ele estava se referindo aos bailes feitos nas comunidades cariocas. Mas se a musica do funk é inofensiva, porque ela desperta tanto repudio e um discurso demagogo do senhor Wagner Montes. Nossa! será que a musica do funk carioca tem poderes subliminares tão manipuláveis assim a ponto de interagir no caráter das pessoas!? 

             Vamos então as letras. É claro que não vemos aqui uma letra tão elaborada como às do Mano Brown dos Racionais Mcs e Humberto Gessinger dos Engenheiros do Havaíi ou sensíveis e inteligentes também como as letras do Renato Russo da Legião Urbana.... SERÁ!? Não há de fato nada de politizado no funk e sua estrutura é tão pobre e insossa a ponto de sequer despertar nenhum tipo de sensibilidade?

            O que é inegável é que o funk desperta estranhamento. Porque é agressivo, anárquico e orgiástico. É agressivo porque fala da violência tal qual ela se apresenta: Totalmente explicita e sem metáforas. É anárquico porque promove o distúrbio contra a ordem vigente. Uma anarquia sem ideologias como as cantadas pelos rock stars. Uma anarquia pela anarquia. Sem novos sistemas político-sociais que iriam ocupar o sistema atual e assim correr o risco de um novo sistema totalitário inserido por uma nova ordem. É orgiástico porque também é explicito, mas não pode ser chamado de machista porque o que mais me parece inovador e libertador é que muitas dessas musicas dita obscenas, são escritas e cantadas por mulheres. 

        Escrevi boa parte disso em meu artigo O Crime do funk carioca. Mas agora percebo mais ainda é que muitas das criticas a este estilo musical não vem Apenas de grupos definidos como religiosos e conservadores de classe media alta em geral. Vem dos mesmos grupos sociais em que a realidade do funk está inserida. Então que tipo de estranhamento é esse que afeta até mesmo àqueles que estão à margem dessa realidade desvelada pelo funk?

        Este estranhamento pode ser comum àqueles comparados as obras de arte e em especial a arte contemporânea. Porém, não é a mesma coisa. E não tem nada a ver com patamares de erudição. Isso é por si só um  mito construído que pensadores como Pierre Bourdieu e Alain  Dardel tentaram desmistificar mostrando a verdade por trás dessas convenções. Cada vez mais me convenço que as artes e em especial as artes visuais estão se elitizando. E não por uma mera questão de gosto como tantas pessoas defendem para definir que uma pessoa que curte Rock and roll ou musica clássica tem bom gosto comparada a uma pessoa que curte funk (e essa ultima é sempre classificada como uma pessoa de gosto duvidoso ou até mesmo de intelecto inferior). O que de fato está por trás disso é o velho discurso vindo do topo da pirâmide social de que pobre não tem gosto porque não tem intelectualidade suficiente para entender “as artes do bom gosto”.  No entanto, cada vez mais a arte contemporânea caminha para uma total desmaterialização do objeto de arte vindo já da arte conceitual para o campo filosófico e crítico. Ou seja, acadêmica. Teóricos da arte como Clement Greenberg e Arthur C. Danto, chegam de fato a ensaiar um possível fim da arte e sua história porque ela chegaria a ser outra coisa. Se de fato ela  acabará ou não o que posso especular aqui é que talvez ela nunca tenha existido. Não para todos de fato.

            Se antes a arte serviu a igreja e a burguesia ela agora se destina ao puro capitalismo estatal na qual a chave do seu  conhecimento não estará destinada a uma determinada parcela da sociedade. Em outras palavras: aos que estão na base e até mesmo na margem da pirâmide social na qual hoje chamo esta pirâmide de polis e a urbe como sua margem, essas pessoas não tem acesso aos códigos de entendimento da arte contemporânea sendo relegados a meros ignorantes incultos.
“A categoria mais respeitada nos museus é a dos detentores de um diploma de final de estudos secundários, ou seja, indivíduos que assimilaram parte das disposições cultas, produto de uma educação distribuída de forma desigual, tratando ‘as aptidões herdadas como se fossem virtudes próprias das pessoas [‘dons’], ao mesmo tempo naturais e meritórias’”.(Pag. 10).
            É impressionante o quanto a realidade do Frances Pierre Bourdieu, na qual resultou neste preciso estudo, se adéqua a nossa realidade. Prova de que os valores simbólicos, embora variantes de acordo com a ordem social de cada país, são hierarquizantes baseadas em falácias como dons divinos ou meritocráticos. Como se as demais pessoas das então entendidas classes inferiores não compreendessem a arte e o conhecimento humano no geral porque simplesmente não possuíssem o dom divino ou sequer mérito suficiente. As aptidões herdadas definidas por Bourdieu são aqueles conhecimentos adquiridos na formação familiar. No caso, das classes mais abastadas. É este “conhecimento”, somado ao diploma adquirido na academia é que vai legitimar o acesso aos museus e galerias de arte.
“Da mesma forma, a representação mística da experiência estética pode fazer com que a graça da visão artística, designada por ‘olho’, seja reservada aristocraticamente, por alguns, a determinados eleitos, enquanto outros a outorgam, com liberdade, aos poucos ‘pobres de espírito’”. (pag.17)  

            Como esporadicamente trabalho como monitor de obras de arte, Já presenciei e vivi experiências do quanto o estar diante das obras de arte causam efeitos diversos a diferentes pessoas conforme suas origens sociais. Desde e estudantes cômicos e despretensiosos a frequentadores assíduos destas exposições e que carregam consigo uma bagagem de conhecimento predeterminado seja qual for à obra em que estas ultimas estarão diante. Como monitor, em algumas obras, de fato costumo falar um pouco delas explicitando o que aprendi com o próprio artista, mas também somando um pouco de minha subjetividade e conhecimentos acadêmicos. Já me defrontei com pessoas interessantes que de fato agregaram entendimentos a mais ao meu conceito de determinadas obras.

            Mas o que de fato me chama atenção é que raríssimas vezes pessoas que aparentam estar nesses locais casualmente apresentam fortes entendimentos subjetivos. Às vezes em uma forma bastante simples e ao mesmo tempo rica. E que muitas vezes valem mais do que qualquer aula teórica sobre arte.

            Também tive experiência com pessoas que são próximas a mim que estiverem diante de uma obra de arte e demonstraram enorme respeito embora “sequer entendessem” o jogo estético que a obra ali propunha. Este respeito é o compreender embora não entenda o desconhecido. Como se ali estivesse um ídolo adorado por outros povos ou outras religiões, mas que seria perigoso uma critica depreciativa. A esta forma de respeito eu não vejo relacionada ao funk carioca cujo estranhamento aqui causado gera descrédito.

            Outro exemplo bastante interessante e que desta vez aconteceu comigo: Há muitos anos atrás eu pertencia a uma banda de rock. Eu era adolescente e me vestia como qualquer garoto que gostava de rock naquela época. E era de fato uma época bem diferente dos dias de hoje porque era raro encontrar pessoas que curtiam rock. Hoje temos fãs de rock por metro quadrado e em cada esquina. Mas naquela época, ouvir rock já causava estranhamento, imagine fazer parte de uma banda. Pois bem, meus companheiros de banda e eu fomos a uma festa de pessoas que não curtiam rock e de fato lá só rolavam musicas do momento. As chamadas musicas de radio. Não demorou muito para descobrirem, graças ao nosso visual, que curtimos e fazíamos musicas de rock. Simplesmente aquelas pessoas nos deixaram em um lugar da festa bastante privilegiado e nos trataram como se fossemos verdadeiros rock star sem nunca terem ouvido nossas musicas. O que quero dizer com isso é que o estranhamento que causamos naquelas pessoas não foi de repudio contra o nosso estilo musical e cultural, mas de admiração por algo que elas assumidamente não entendiam embora compreendessem sua importância (pelo menos em termos de musica e estilo “de fora”).

            Mas por que isso não funciona com o funk nos dias de hoje? Só há um entendimento possível: de que o funk carioca, como disse acima, não é estimado porque não é “importado”. Não vem de fora. E o pior: vem das favelas e produzido, por favelados: gente sem instrução, sem cultura e incapazes de entender um Picasso e ainda dada à violência. Não é o rock and rooll mad in EUA, legitimado por Elvis PresleyBob Dylan, etc. a cultura do outro, assim como a grama do vizinho, é sempre a mais atraente. A arte da burguesia com seu bom gosto ou a musica de fora com seus acordes perfeitos e autênticos.  Podemos dimensionar aqui o quanto estamos bem abaixo dessa hierarquia dos gostos e ainda assim optamos por achar melhor o que está acima de nós socialmente:    Se pensarmos em uma instancia antropológica podemos dizer que a visão da classe proletária em relação à classe privilegiada é semelhante a nossa visão cultural como num todo, incutida em todos nós em termos universais. Ou seja, de aceitarmos e querermos fazer parte de uma cultura eurocêntrica.

            Repito aqui uma vez mais a pergunta: será que realmente o funk é nocivo ao mesmo tempo em que ele é carente de intelectualidade? Por si só a questão é paradoxal. Como algo pode se nocivo se ao mesmo tempo é carente de intelectualidade? No caso do funk, nenhum nem outro. Ele não é nocivo e muito menos desprovido de inteligência. As letras são inteligentes porque refletem uma realidade e uma forma de expressão de um grupo. E ainda vai mais longe. Ela propõe estilos de vida que a sociedade jamais admitiria embora admitíssemos em nossas intenções metafísicas. Suas letras não precisam de fato de nenhuma apropriação “intelectual” de algum representante das classes privilegiadas e não cabe aqui espaço para uma normatização culta da língua porque não simplesmente não é urgente e muito menos interessante para este grupo como forma de expressão. Quem determinou que para fazer letra de musica é preciso antes passar por uma revisão acurada de um profissional das letras? Se for para tanto, podemos começar por várias letras de grupos musicais de outros gêneros não somente aqui no Brasil, mas de outras partes do mundo. Se são violentas, o rap norte americano também o é na mesma medida que é sexista também. E acho que o que incomoda no caso é a liberação sexual da mulher como um grito na contemporaneidade. Ou será que se fossem cantoras do mesmo estilo chique decadente da já falecida Amy Winehouse causaria tanto alarde? Talvez ainda causassem uma impressão negativa já que nossas MCs do funk não tiveram “a sorte” de terem nascidas britânicas.
“O funk carioca é alvo das mais duras críticas por causa do suposto apelo sexual. No entanto, há décadas a cultura brasileira louva o sexo, em vários ritmos musicais. Forró, axé, MPB, pop rock, sertanejo... O que eles têm em comum? Todos possuem letras de músicas com duplo sentido e apelo sexual. Assista e entenda melhor!” Cristiane de Oliveira

      Quanto a polêmica “dos dedos” mostrados no videoclipe do grupo Bonde das Maravilhas, me poupem. Existem coisas muito mais sérias para serem discutidas no mundo real do que um meticuloso flagrante de contagem dedos apenas com intuito de depreciar e ridicularizar a cultura alheia no mundo virtual. No que me concerne, esta cultura não é tão alheia assim como pensamos. Ela é bem nossa. Bastante nossa. Eis a nossa negação de origem. Tentem encarar o espelho. Eu já superei isso.

Pós dígito: ia me esquecendo de colocar aqui a estética musical quanto ao seu ritmo. Francamente, se não há inteligência e inovação em misturar efeitos eletrônicos com as batidas dos ritmos afro descendentes (macumba para ser mais claro), então eu também sou bastante burro! Ah, sim, inovador é o trip-hop britânico com suas misturas incríveis de jazz, hip-hop e musica eletrônica, né!? Vocês estão certos.

Fontes que deram origem a polemica e o debate sobre o assunto:

Publicado em 28/04/2013 - não consegui fazer um link do víedo para a minha página mas por este endereço vocês acessarão direto do canal do You tube

Texto: Cristiane de Oliveira
Produção: Cristiane de Oliveira e Petter MC
Edição: Petter MC
Realização: #TudoNossoProduções
disponível no You Tube


http://www.noticiasempre.com/2013/05/o-que-acontece-quando-uma-mulher-aceita.html - o que acontece quando uma mulher aceita a subir ao palco de um baile funk.

O videoclipe polêmico.




Arte Inimiga do Povo – Roger L. Taylor – Por si só este livro é suficiente para termos uma opinião desvelada e liberta das opiniões pré estabelecidas pelo sistema capitalista mercadológico. Nos faz perceber, assim como Bourdieu, a arte não exatamente esta santa cuja solenidade nos cega e nos coloca em nosso “verdadeiro lugar de docilidade”.

O amor pela arte - Pierre Bourdieu - embora ele seja bastante técnico por ser empírico, e com isso corrermos o sério risco de largarmos de lado seus livros. É extremamente importante sermos pacientes porque justamente sendo empirista é que Bourdieu terá consistência em suas teses fortemente fincadas em pesquisas sérias nas práticas sociais. Tentem ler outros livros desse autor e pensador.

Cultura, um conceito antropológico – Roque de Barros Laraia – importante entendermos conceitos como determinismos biológicos, geográficos etc. e que estes últimos não são tão concretos como imaginamos ter herdado dos evolucionistas pós Darwin.  

A aranha passeia na lua cheia (e no leve sol de Outono).



Em uma bela manhã de outono, há aproximadamente três dias atrás, me deparei com uma pequenina aranha construindo sua teia na sacada do meu quarto. Estávamos Alex, Kelly e eu quando eu os chamei até o quarto para ver aquela pequena, porém grandiosa obra minimalista daquele pequeno-grande construtor. Alex também ficara impressionado diante de tão perfeita engenharia da natureza. Kelly admirada tirou algumas fotos que se encontram aqui postadas.
Sei que parece exagerado uma vez que são corriqueiras ações da natureza. Mas quantas vezes temos a oportunidade de sofrer estes insgths para a contemplação ainda mais nos dias de hoje.

Esta aranha e sua obra estiveram presentes nos dias que se seguiram, me acompanhando nas tardes solitárias de minha ociosidade. Toda vez que a angustia batia eu caminhava para ela como quem se dirigia para um altar de Geia, que permanecia imóvel desde aquele dia aguardando por seu alimento.  Olhava para ela e pedia uma resposta às minhas angustias. Obviamente eu não recebia porra nenhuma de resposta. Mas talvez não precisasse. Ela estava lá. Provavelmente faminta nestes últimos três dias, imóvel (e ainda está aqui do meu lado enquanto digito). Inabalada pelas exigências de sua biologia.  Sem se deixar afetar pela brevidade de sua própria existência.

Foi então que percebi o quanto ela estava em uma posição privilegiada em comparação a minha apesar de eu saber que ela morrerá daqui há alguns dias. Mas ela não sabe disso e nem precisa saber. O que vale para ela é apenas o momento, mesmo que este momento seja um momento que precederá outro momento e nada acontecerá também no instante seguinte (Pelo menos até um inseto desavisado cair em sua mortífera teia). 

Eu é que me senti pequeno diante de sua grandiosidade. Provavelmente se eu estivesse ocupado fora de casa não perceberia isto.  Sou amaldiçoado por saber exatamente o meu futuro mesmo que o presente seja um mistério para mim. Não conseguiria também suportar tanto tempo de fome como ela suporta. Sinto-me infeliz por não ter sido o escolhido de Gaia.
Então isso é permanência. Não a eternidade que tanto buscamos para além da forma. É esse pequeno espaço que uma unidade biológica tem de viver e buscar seu alimento antes de sucumbir a si mesma. É a memória que permanece ali congelada como estas fotos e ao mesmo tempo é a memória do peixe que apaga as angustias do futuro. É também a ausência do Eu em prol de algo maior: o Nós. Nós, seres dentro de uma cadeia de sobrevivência. Na natureza não há tempo para egoísmos salvaguardando o que é urgente para a unidade biológica.  
Olha a minha cara de bestificado: "Que obra impressionante!"

Negar a substância é negar o espírito da terra. Não se de fato percebermos a terra como mãe. Mas parece que estamos cada vez mais distante dessa permanência uma vez que há muito tempo abandonamos nossa natureza.  Isso é angustia de fato.

Esta fotografia de qualidade duvidosa, fui eu mesmo quem tirou neste momento em que publico esta página. Agora, minha amiga de tardes solitárias encontrou uma companheira, como vocês (tentam) observar.