quarta-feira, 8 de maio de 2013

A aranha passeia na lua cheia (e no leve sol de Outono).



Em uma bela manhã de outono, há aproximadamente três dias atrás, me deparei com uma pequenina aranha construindo sua teia na sacada do meu quarto. Estávamos Alex, Kelly e eu quando eu os chamei até o quarto para ver aquela pequena, porém grandiosa obra minimalista daquele pequeno-grande construtor. Alex também ficara impressionado diante de tão perfeita engenharia da natureza. Kelly admirada tirou algumas fotos que se encontram aqui postadas.
Sei que parece exagerado uma vez que são corriqueiras ações da natureza. Mas quantas vezes temos a oportunidade de sofrer estes insgths para a contemplação ainda mais nos dias de hoje.

Esta aranha e sua obra estiveram presentes nos dias que se seguiram, me acompanhando nas tardes solitárias de minha ociosidade. Toda vez que a angustia batia eu caminhava para ela como quem se dirigia para um altar de Geia, que permanecia imóvel desde aquele dia aguardando por seu alimento.  Olhava para ela e pedia uma resposta às minhas angustias. Obviamente eu não recebia porra nenhuma de resposta. Mas talvez não precisasse. Ela estava lá. Provavelmente faminta nestes últimos três dias, imóvel (e ainda está aqui do meu lado enquanto digito). Inabalada pelas exigências de sua biologia.  Sem se deixar afetar pela brevidade de sua própria existência.

Foi então que percebi o quanto ela estava em uma posição privilegiada em comparação a minha apesar de eu saber que ela morrerá daqui há alguns dias. Mas ela não sabe disso e nem precisa saber. O que vale para ela é apenas o momento, mesmo que este momento seja um momento que precederá outro momento e nada acontecerá também no instante seguinte (Pelo menos até um inseto desavisado cair em sua mortífera teia). 

Eu é que me senti pequeno diante de sua grandiosidade. Provavelmente se eu estivesse ocupado fora de casa não perceberia isto.  Sou amaldiçoado por saber exatamente o meu futuro mesmo que o presente seja um mistério para mim. Não conseguiria também suportar tanto tempo de fome como ela suporta. Sinto-me infeliz por não ter sido o escolhido de Gaia.
Então isso é permanência. Não a eternidade que tanto buscamos para além da forma. É esse pequeno espaço que uma unidade biológica tem de viver e buscar seu alimento antes de sucumbir a si mesma. É a memória que permanece ali congelada como estas fotos e ao mesmo tempo é a memória do peixe que apaga as angustias do futuro. É também a ausência do Eu em prol de algo maior: o Nós. Nós, seres dentro de uma cadeia de sobrevivência. Na natureza não há tempo para egoísmos salvaguardando o que é urgente para a unidade biológica.  
Olha a minha cara de bestificado: "Que obra impressionante!"

Negar a substância é negar o espírito da terra. Não se de fato percebermos a terra como mãe. Mas parece que estamos cada vez mais distante dessa permanência uma vez que há muito tempo abandonamos nossa natureza.  Isso é angustia de fato.

Esta fotografia de qualidade duvidosa, fui eu mesmo quem tirou neste momento em que publico esta página. Agora, minha amiga de tardes solitárias encontrou uma companheira, como vocês (tentam) observar.

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