Foram quase 15 anos de minha vida estando eu em um trabalho totalmente inútil que nada acrescentava àquilo que eu realmente queria fazer: Desenhar, compor, fazer qualquer coisa ligada à arte. Mas em um país em que, quem nasce na classe operária é tido por vagabundo por seus pares e é, até certo ponto, derrubado escada abaixo pelos que detém a comodidade econômica e cultural do topo de suas belíssimas torres de marfim (e porque não ouro?), até que eu consegui extrair algo de útil de minha vida inútil até aquele momento.
Eram também tempos em que eu andava desacreditado de minhas potencialidades pessoais e artísticas. Havia deixado de desenhar no fim da minha adolescência, fechei-me em auto preconceitos e fui minando minha paixão pela musica.
Décadas depois estou aqui apresentando estes trabalhos. Depois de infinitas reviravoltas em minha finita existência. Lembra-se do que disse acima: “até que eu consegui extrair algo de útil de minha vida inútil até aquele momento.”? O resultado são estes rabiscos da época em que eu trabalhava como Office boy/auxiliar jurídico de uma empresa de transportes coletivo que nem ouso dizer o nome aqui para não dar ibope.
Estes rabiscos, os que sobreviveram pelo menos (e por incrível que pareça, despareceram justamente as charges em que eu caricaturava alguns colegas de trabalhos por serem estes mesmos caricatos), são coisas que eu fazia na minha mesa durante uma pausa e outra. São sentimentos, pensamentos e promessas não cumpridas e ainda de quebra, um sarro com o pessoal.
A ultima frase deste caderno diz muito sobre mim hoje: não sobrou muita coisa daquele jovem que desenhava mais por necessidade do que qualquer outra coisa. Como Marques de Sade que teve de escrever na prisão com seu próprio sangue como tinta e as paredes como suporte para suas palavras. Um necessidade patológica.
O que sou hoje? Não sei bem e não saber é um alivio...
JC ANJOS,
Rio de Janeiro, 15 de abril de 2017.
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