segunda-feira, 7 de abril de 2014

O RAP de São Paulo cujo dialeto plural rompe com as fronteiras globalitárias da contemporaneidade.


De vez em quando, me permito sair aos domingos para quebrar o velho estigma de que este dia é o mais tediante e angustiante da semana. Mas a cidade, como referência cultural também precisa colaborar. E neste domingo (06/04) a cidade resolveu ser generosa. O local foi  Audio Rebel, em Botafogo, ao receber o rap de São Paulo mistura doida de  MC Sombra em um show intimista e aconchegante. 

 Com canções que escapam do dialeto local (a exemplo da musica Rap do Brasil) e assim tornam-se diversos dialetos que transcendem as fronteiras demarcadas pelas categorias culturais estratificadas, (é o que a própria canção movimenta-se sugere: Não ficar parado. Seguindo os fluxos dos cotidianos linguísticos e culturais), percebemos as influências regionalistas vindas do mangue beat, ska, funk carioca, hip-hop, samba rap etc., ao mesmo tempo que ouvimos vozes de Sabotage e Racionais Mcs em toda a sua musicalidade local em perfeito diálogo com Chico Science e Zé Ramalho, do Outro.

 As letras representam bem o carisma e bom humor de Mc Sombra. É por isso que funciona, porque é sincero e assim os shows tornam-se uma liturgia mundana, porém de irmandade entre aqueles cuja conectividade se complementa e se confraterniza por intermédio de suas canções, que com microfone em punho e proferindo palavras metafóricas entre uma canção e outra, sem serem pretensiosas, diz para seu publico algo do tipo que naquele momento “todos estamos nos divertindo, mas com seriedade". Da mesma forma que conversamos desarmados no cotidiano,  em que os diversos recursos linguísticos que recorrem ao figurativo são mais significativos e reais que as formalidades que se encontram fora dos bares e campos de futebol. Uma seriedade que habita o protesto sem seguir um manifesto formal. Uma diversão que abriga uma consciência política e social que tanto precisamos cultivar nestes tempos de territórios definidos pelo globalitarismo.
 Canções como Noticiário estéreo ganham uma colagem carioca local. Provando que o seriado Spectreman de gerações passadas já anunciava a problemática que assolaria o mundo contemporâneo.  Piada Cabeluda é um protesto bem humorado das questões raciais no Brasil. O Cabelo como identidade e patrimônio racial ganha um discurso jocoso e inevitavelmente não deixo de me perguntar inspirado em sua canção: O que é cabelo bom e o que é cabelo ruim?
O show termina e voltamos para o nosso
cotidiano, levando em nossos corações a mensagem de Mc Sombra que habita o senso crítico e engrossa as fileiras de nossas manifestações do dia-a-dia. Mas acima de tudo, humor e amizade que rompe qualquer preconceito racial, regional e centralizador.  Desejando que sua volta às terras cariocas seja breve. Porque no fundo carecemos dessas liturgias mundanas.
No demais:
 me explique e me diga direito,
é bem melhor assim.
Vou questionar os demais

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